Ato público reuniu vozes contra o racismo em Foz do Iguaçu, neste domingo, 7. (Fotos: Marcos Labanca)
Parte da herança de três séculos de escravidão, o racismo brasileiro reproduz desigualdades que tornam a população negra mais vulnerável social e economicamente. A taxa de homicídio de jovens de 15 a 29 anos, de acordo com o IBGE, é de 98,5 – a cada cem mil habitantes – entre pessoas “pretas ou pardas”, ante um índice de 34 de brancos.
Frente a essas e outras situações de injustiça, o coletivo Fronteira Preta reuniu vozes contra o racismo durante ato público nesse domingo, 7, na Praça da Paz, em Foz do Iguaçu. A mobilização integrou a agenda nacional do movimento negro, desencadeada após mortes de jovens no Rio de Janeiro (RJ) e em outras cidades do país.
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Com regras de segurança sanitária, como o uso de máscara de proteção, os participantes fixaram faixas e cartazes com nomes de crianças, jovens e adultos – todas pessoas negras – vítimas de violência. Seguiram-se palavras de ordem antirracista, antifascista e de protesto contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Os nomes de pessoas assassinadas no país – “pelo simples fato de serem negras”, conforme expuseram – foram mencionados de maneira espontânea, sugerindo a presença simbólica de cada uma delas. Fez-se um minuto de silêncio, em seguida, como homenagem a essas vítimas do que foi considerado no ato público como violência em função de cor e raça.
Participantes do ato exibiram cartazes com nomes de pessoas negras mortas no país
Uma das organizadoras da mobilização, Manoela Ferreira afirmou que o racismo deve ser combatido por toda a sociedade. Ela defendeu a necessidade da manifestação pública citando que pessoas negras mortas recentemente não tiveram “direito ao distanciamento social” porque estavam trabalhando ou em ações solidárias durante a pandemia.
“Vidas negras importam enquanto vivas”, enfatizou Manoela, ao microfone. “Não queremos nos manifestar ou lamentar somente quando ocorrem as mortes de pessoas negras”, frisou a integrante do coletivo Fronteira Preta, que é graduada em Direito e estudante de Gestão Pública.
Professora de História na rede estadual de ensino, Aline Torres entende que a eliminação do racismo depende de mobilização, políticas públicas e conscientização da população. A educadora elencou algumas diferenças entre negros e brancos que vigoram, como o acesso desigual ao trabalho e à educação.
“Esse ato antirracista é para denunciar as mazelas que existem em nossa sociedade”, sublinhou. “A população negra muitas vezes não tem acesso à educação e a trabalho digno. Mulheres e homens negros têm as piores ocupações e recebem os menores salários”, expôs Aline, que integra a direção da APP-Sindicato/Foz.
Estudante de Cinema e Audiovisual, Andressa Caniza Borges disse que o racismo não encontra fronteiras e está amplamente disseminado. Para ela, manifestações públicas como a realizada na Praça da Paz são necessárias para evidenciar a existência de práticas racistas e combatê-las com a participação e envolvimento das pessoas.
“Sou nascida e criada em Foz do Iguaçu, assim como toda a minha família, e temos inúmeras histórias de racismo contra a gente”, revelou. “A importância desse ato é para que o enfrentamento ao racismo se torne uma verdade em Foz do Iguaçu, para que esse discurso seja presente e palpável, escutado por todos”, ressaltou Andressa.
O combate ao racismo é dever de toda a sociedade, defenderam os participantes da manifestação – fotos Marcos Labanca
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