Cena de “Édipo Rei”
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O Sesc São Paulo e o Istituto Italiano di Cultura – San Paolo realizam a mostra “Os 100 anos de Pasolini”, com a exibição de filmes, encontros e debates em homenagem ao centenário do cineasta, escritor, intelectual e poeta italiano Pier Paolo Pasolini. Ao todos, 19 filmes foram projetados presencialmente no CineSesc, em cópias restauradas em 2k e 4K e uma sessão especial em 35mm.
Agora, a mostra ganha o streaming e convida o público de todo o Brasil para assistir a 5 títulos dirigidos por Pasolini, na plataforma Sesc Digital. Os filmes estão disponíveis desde o dia 18 de agosto e ficarão disponíveis gratuitamente por 30 dias ou até esgotarem os limites de visualização. Confira a programação completa da mostra .
Um ciclo de palestras online com a presença de professoras, professores, críticas e críticos será realizado pelo Centro de Pesquisa e Formação do Sesc. Além disso, duas aulas magnas sobre Pasolini com pesquisadores italianos serão disponibilizadas online.
“A mostra “Os 100 anos de Pasolini” celebra a vida e a obra do diretor e exibe boa parte de sua produção cinematográfica, além de palestras e outras atividades formativas que se aprofundam na obra de Pasolini, definida por uma postura de permanente reflexão e problematização acerca dos postulados estéticos e políticos de seu tempo”, comenta Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc São Paulo.
Pasolini – Nascido em 5 de março de 1922, em Bolonha, no norte da Itália, Pier Paolo Pasolini, encontrou na literatura, desde cedo, uma paixão. Formou-se em Estudos Literários pela Universidade de Bolonha, publicou livros de poesia, contos e romances. Foi poeta, editor, pintor, ensaísta, crítico literário e cinematográfico, roteirista, jornalista e agitador cultural. Somente aos quarenta anos de idade se rendeu ao cinema, meio pelo qual ganharia projeção mundial. Gay, cristão e marxista, Pasolini era polêmico, controverso e marcou uma época. Intelectual profundamente crítico da sociedade de consumo e do capitalismo, foi uma figura central na vida cultural italiana dos anos 1950 aos 1970. Atacada de diversos lados, sua obra foi marcada pelas experiências políticas e estéticas que teve ao longo da vida e se tornou um precioso legado para história.
Pasolini foi morto em 2 de novembro de 1975, no balneário de Ostia, a 30 km de Roma. Um garoto de programa de 17 anos foi o único condenado pelo crime.
Para Michele Gialdroni, diretor do Istituto Italiano di Cultura – San Paolo, o centenário de Pasolini é uma oportunidade de homenagear a vida e obra de um autor inevitável e transversal. “Todos têm seu Pasolini, o apocalíptico e o elegíaco, o violento e o delicado, o comunista e o católico, o tradicionalista e o moderníssimo, o clássico e o vanguardista, o intelectual sofisticado e o frequentador das ruas de subúrbio, o filólogo e o cineasta, o poeta e o colunista. Eu também tenho meu próprio Pasolini”, declara.
Cena do filme “Accattone – Desajuste Social”, de Pier Paolo Pasolini. Foto Divulgação
Streaming
Cinco filmes estão disponíveis, gratuitamente na plataforma Sesc Digital. Accattone – Desajuste Social (1961), Mamma Roma (1962), O Evangelho Segundo São Mateus (1964), Édipo Rei (1967) e Gaviões e Passarinhos (1966) ficam na plataforma Cinema #EmCasaComSesc, para todo o Brasil.
O primeiro longa-metragem do diretor, Accattone – Desajuste Social (1961), sobre um cafetão que sobrevive na periferia de Roma, em 1960, graças a duas mulheres: Nannina, sua esposa que cuida de várias crianças, e Madalena, uma prostituta de cujos ganhos ele depende. Quando Madalena é presa, ele perde sua receita e acaba sucumbindo. O filme teve sua estreia no Festival de Veneza do mesmo ano, mas sua recepção foi controversa, o que se tornaria uma constante na carreira do cineasta.
Mamma Roma (1962) traz em sua trama uma prostituta de meia-idade que sonha em mudar de classe social para poder voltar a viver com seu filho adolescente, Ettore. Para isso, faz de tudo para dar uma vida melhor a ele. Aclamada pela crítica, a obra causou furor na opinião pública por ser considerada, supostamente, obscena.
O Evangelho Segundo São Mateus (1964) é mais um destaque na programação. O filme teve estreia no Festival de Veneza, onde conquistou o prêmio do júri, e foi sucesso de público ao abordar a história de Jesus Cristo, do nascimento à ressurreição, a partir do texto de São Mateus. Mesmo com a boa recepção, Pasolini sofreu duras críticas por parte de intelectuais de esquerda, ainda que ele próprio se autoproclamasse comunista (mesmo tendo sido expulso do partido no fim dos anos 1940 por ser homossexual).
Em 1967, Pasolini realizou a primeira de uma série de adaptações inspiradas em grandes textos da literatura universal, obras que também integram a programação do centenário do diretor: Édipo Rei (1967), com a famigerada história do rei de Tebas, desde o seu abandono no deserto, até a descoberta do incesto involuntário e a partida para o exílio.
Cena do filme “Gaviões e Passarinhos” – Foto: Divulgação.
. Em Gaviões e Passarinhos (1966), pai e filho caminham por periferias e estradas desertas e encontram um corvo falante, de forte espírito crítico. O pássaro, que tudo viu, tudo leu e tem ideias sobre tudo, insiste em partilhar a sua ciência e a sua concepção do mundo com os dois viajantes, eles próprios ignorantes e insensíveis à sua especulação intelectual. Cristianismo e marxismo aparecem nas falas do corvo, cuja “cultura” se opõe às reações instintivas e “naturais” de seus interlocutores. Visto como uma crítica à crise interna do Partido Comunista, o filme chamou especial atenção no Festival de Cannes à época. Em Teorema (1968), o cineasta segue discutindo de maneira crítica a sociedade italiana, ao retratar a vida de uma rica família burguesa de Milão que é radicalmente modificada após a chegada de um misterioso visitante que seduz todos da casa, dos filhos ao pai, passando pela mãe e pela empregada.
Atriz Anna Magnani em “Mamma Roma”. Foto: Divulgação.
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