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Com todos os ingressos vendidos antecipadamente, 220 pessoas serão contempladas com assento no velho e bom Teatro Barracão para assistir o Sarau das Três Fronteiras, a partir das 19 horas. Organizado pela Cia Compás de Dios, coletivo de dança flamenca da cidade, o evento vai mesclar no palco expressões artísticas diversas. A programação prevê uma viagem pela Dança, com direito a visitar poesia e música mariachis.
“A princípio seria só uma noche gitana, mas depois pensamos na ideia do sarau, agregando amigos e pessoas que trabalham com arte na fronteira, explica a maestra de flamenco Ana Isabel Galeano. “Entendemos que o Sarau das Três Fronteiras tem a cara da cidade, uma mistura de coisas que cria identidade local”, complementa a maestra de flamenco e uma das coordenadora do evento.
Como toda festa de congraçamento e troca, o Sarau será bem guarnecido de barraquinhas com alimentação e bebidas a preços módicos. Contribuindo para o pós festa, exemplares da coleção Escrita da Guatá também serão distribuídos.
Na programação da noite, o flamenco da Escola Ana Galeano e da Cia Compás de Dios terá como companhia convidados especiais. É tanta gente com luz, como pedacinhos de um mural que vai se constituir e refletir na plateia. Tem dança do ventre, com números das bailarinas Pamela Naibo, Ana Paula Machado e Thais Sgarbi Maciel. Dança de rua, com alunos coordenados pelo professor Bianor Dias. Kung fu da Academia Corpo Mente e Alma, do mestre Aquiles Rivera Lobos, também.
Dança intuitiva com Luciana Melo e declamação de poesias por Isel Talavera somam numa segunda parte. Neste bloco também se apresentará o grupo de mariachis Los Ideales, convidados oriundos do Paraguai. Complementando a programação da noite, o projeto de resgate cultural Milpa – Músicas da América Latina – da Unila.
Ana Galeano e Laura Reis durante aula de flamenco – Foto: divulgação
O Sarau das Três Fronteiras servirá para custear a prova de qualificação de nível das meninas do “Compás de Dios”. Ana Galeano explica que elas desenvolvem um curso de formação profissional em dança flamenca e que “a cada ano precisam ser avaliadas pela nossa maestra Rosa Jimenez, da qual sou escola franqueada.”
Compõem o coletivo iguaçuense de flamenco, Compás de Dios: Ana Paula, Machado, Ana Sofía, Isa Galeano, Laura Machado Dutra, Hérica Cibele, Pamela Naibo, Laura Reis, Fabíola Bom-dia, Cirleine Couto, Edneia Machado, Carmen Martin Vicente e Shiderlene Almeida.
Para contornar os gastos que terão com as etapas da mudança de nível, incluindo a vinda de Rosa Jimenez a Foz, o coletivo resolveu colocar o flamenco como causa e consequência. Faz sete meses que a ideia do Sarau começou a pintar. Alunas e maestra aos poucos se decidiram em subir também ao palco o objetivo que lhes levou a bailar.
É o primeiro evento organizado por elas. E pelo que experimentaram até agora, indicam que passe a ser anual. “Tudo na balança, a facilidade é sem dúvida a diversidade que temos [em Foz do Iguaçu]; a dificuldade maior está em sermos novatas na gestão de um evento deste porte. Aprendemos muito e só podemos agradecer a excelente resposta do público”, define Galeano.
A arte serve para humanizar. Agregar, somar, é aprendizado inicial e fundamental para um grupo. “O mundo da Dança às vezes é um tanto quanto competitivo e quando é assim, me sinto um et. No nosso grupo, no entanto, estamos lidando com isso e aprendendo a sermos mais fortes, juntas” – Ana Isabel Galeano, maestra de flamenco
O Sarau das Três Fronteira também quebrou outro obstáculo, o do patrocínio. Sem preconceito, empresas de tamanhos diferentes ofereceram atenção e suporte à empreitada das artistas a seu modo. A Casa da Esfiha Beirute doou salgados para serem comercializados e a Produssom cedeu som e iluminação. Da Dona Lola Confeitaria vem a gentileza de preparar drinks, cuidar do bar e a competência da cerimonialista Leila Boldrini. A Arte em Detalhes somou com a Só Caixas Artes em Madeira, a Morada Sopro de Sol e o Mercado Fallsmix aporte em dinheiro para custeio gerais. Num raciocínio pra lá da fronteira mercantil, ganhou espaço a sensibilidade em relação à arte. .
Ana Galeano e componentes da Cia Compás de Dios; “A arte humaniza” – Foto: divulgação
. A arte serve para humanizar. Agregar, somar, é aprendizado inicial e fundamental para um grupo. “O mundo da Dança às vezes é um tanto quanto competitivo e quando é assim, me sinto um et. No nosso grupo, no entanto, estamos lidando com isso e aprendendo a sermos mais fortes, juntas. Estou orgulhosa da Cia Compas de Dios. Tanto do resultado enquanto professora do que elas vão apresentar no palco, pois são extremamente dedicadas, quanto pela cooperação de umas com as outras.” celebra Galeano.
A origem do Flamenco segue sendo um mistério, mas, o mais provável é de que tenha se formado ao longo dos anos graças à miscigenação cultural de diferentes povos que habitaram a Península Ibérica, particularmente o sul da Espanha, na região de Andaluzia. Carrega em seu cordão essencial, influências de todos os povos e culturas que habitaram o território andaluz, encruzilhada de tantas culturas e povos milenares, como os fenícios, visigodos, romanos, árabes, judeus e gitanos..
Laura Dutra, 11 anos: “Me sinto alegre”
Trazida para o Ocidente, em nosso tempo, a dança flamenca responde por interesses diversos que comungam sempre com a beleza humana de se expressar subjetivamente. Não importa a idade, as pessoas que se interessam por esta arte, pulsam em uma frequência diferente.
Laura Machado Dutra, 11 anos, faz aula a seis meses com a maestra Ana Galeano. Ela e a mãe procuravam uma atividade artística em que pudessem cohabitar em tempo e espaço. Com a mãe na plateia, o sarau desta noite será a estreia de Laura. A integrante mais nova da Cia Compás de Dios resume: “Quando eu estou dançando eu me sinto alegre. Posso até estar muito triste, mas quando eu danço me sinto aliviada e me divirto.”
No Sarau das Três Fronteiras também acontecerá a estreia de Hérica Cibéle Leão Soares, 51 anos. Ela conta que experimentar pela primeira vez dançar flamenco em um palco é um misto de alegria, frio na barriga e orgulho. “Através dos movimentos dessa dança você conta uma história, você demonstra uma emoção e retrata uma cultura. Você baila com os pés e com o coração.”
O depoimento de Hérica continua tecendo por um caminho de busca, resgate e compromisso.
Através dos movimentos dessa dança você conta uma história, você demonstra uma emoção e retrata uma cultura. Você baila com os pés e com o coração.” – Hérica Cibéle Leão Soares
“Sempre me encantei pelo flamenco, meu avô veio da região de Granada na Espanha e eu sabia que eu tinha um pouco dessa cultura na história da minha família por parte de pai. Vi uma postagem da Ana, nossa maestra, que tinha um grupo de aulas e resolvi me aproximar. O flamenco para mim mostra o lado forte da mulher ao mesmo tempo que retrata a feminilidade”, diz.
Hérica comemora a estreia. “Eu no início tinha bastante dificuldade, pois a dança flamenca tem um grau de exigência de coordenação motora e concentração. Descobri que não é impossível unindo a didática da maestra Ana Galeano, que é de excelência, à nossa dedicação. Vai ser um dia que, para nós, mostrará a confiança de um grupo que acredita no poder de transformação da arte.”
Com o trabalho coletivo, organização e amor grandes coisas podem ser alcançadas, apostam as integrantes do Compás de Dios – Foto: divulgação
. As fronteiras dos mapas se esvaziam perante as artes e as pessoas se aproximam. Veja a história por Ana Sofía López Moreno:”Sou de Medellín, Antioquia, Colômbia; tenho 27 anos e atualmente moro em Foz do Iguaçu. Quando morei na Colômbia, fazia parte de uma corporação artística onde formava o grupo básico flamenco. Desde antes de chegar ao Brasil, eu estava procurando uma escola de dança flamenco para continuar minha formação, mas foi difícil.”
Sofía conta que finalmente, em maio de 2022, logo depois de seu aniversário, um amigo de universidade lhe mandou um panfleto sobre aula-demonstração de flamenco em Foz do Iguaçu. Mesmo com o evento já ter sido realizado, entrou em contato com a professora [Ana Galeano]. “Foi quando ela me convidou para conhecer o grupo e o processo que estava apenas começando, aceitei o convite dela e antes de subir para dançar no palco com todos os companheiros, senti que era aquele lugar que eu precisava tanto.”
Atuar em um teatro diante de um público que aprecia a arte, especialmente a dança flamenco e toda a cultura que a rodeia, é um privilégio”. (Ana Sofía López Moreno, 27 anos, colombiana)
“A dança para mim representa liberdade, poder, alegria, fraternidade, amor e como mulher da terra – continua Ana Sofía – é uma parte fundamental da minha vida, me permite sentir toda a minha força conectada ao Universo. Quando danço, especialmente flamenco, sinto que posso voar com os pés no chão.”
A colombiana conta que seu potencial na dança tem evoluído com mais força, graças ao incentivo da professora e do coletivo Compás de Dios, “um dos principais motores para soltar todo esse potencial que está em mim e em cada um de nós que faz parte do grupo”. E finaliza ressaltando que atuar em um teatro diante de um público que aprecia a arte, especialmente a dança flamenco e toda a cultura que a rodeia, é um privilégio.
“Com isso me permito tirar o melhor de mim e transmitir tudo o que sinto”. É ainda mais bonita a oportunidade, “quando você faz parte da equipe organizadora de um evento como o Sarau das três fronteiras. Ao longo desse processo pude reafirmar que com o trabalho coletivo, organização e amor grandes coisas podem ser alcançadas”.
Então, bora, lá?!
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