O ato deste ano também marcou uma histórica unidade entre os principais movimentos sociais e de direitos humanos, o que não ocorria há pelo menos 19 anos. A marcha unificada reuniu milhares de pessoas na capital, Buenos Aires, bem como nas principais cidades do paÃs, como Córdoba, Mendoza, Rosário e Santa Fé, em um contexto de oposição à s polÃticas neoliberais e à visão do governo do atual presidente, Javier Milei, sobre a ditadura militar argentina. O mandatário de extrema-direita costuma se referir ao perÃodo ditatorial argentino como “uma guerra” em que “se cometeram excessos”, mas não condena o desaparecimento, a tortura, o assassinato nem o sequestro de bebês dos opositores do regime.
A própria vice-presidente do paÃs, Victoria Villarruel, é oriunda de famÃlia de militares e já defendeu a revisão da polÃticas de reparação e indenização à s vÃtimas e parentes de mortos e desaparecidos polÃticos durante o regime.
Em Buenos Aires, a marcha saiu das proximidades da Avenida 9 de Julho em direção à Praça de Maio, onde fica a Casa Rosada, sede da Presidência da República. O ato foi organizado pelas entidades Mães e Avós da Praça de Maio, o agrupamento HIJOS (Filhos por Identidade e Justiça, na sigla em espanhol), movimentos de direitos humanos, sindicatos e partidos polÃticos, incluindo os peronistas.
“Lutamos por restituir a identidade das centenas de bebês roubados pela ditadura. A apropriação foi um desaparecimento forçado que continua se repetindo enquanto não se recupera a verdadeira identidade dessas pessoas”, discursou a presidente das Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, em um palco montado na própria praça histórica.
Uma das polÃticas sistemáticas da ditadura argentina foi justamente o sequestro e roubo de bebês de mães militantes polÃticas que estavam presas em centros clandestinos de tortura. Essas crianças eram então repassadas para adoção por outras famÃlias, muitas das quais ligadas a militares. São provavelmente centenas de casos jamais elucidados, e os movimentos de mães e avós da Praça de Maio emergiram dessa busca por verdade e justiça, tornando-se referência na luta por direitos humanos no paÃs.
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