Mas vamos a aspectos da foto famosa. Apesar de focar uma cenário com muita movimentação de gente, quem não estava parado durante o registro, acabou invisível na cena reproduzida no papel. Afinal, o tempo de exposição para registrar uma foto na época era extremamente demorado – algo em torno de 5 minutos – se comparado às máquinas de hoje. A exceção ficou por conta de um engraxate e seu cliente, parados na calçada. A fotografia icônica do francês tem questões curiosas. Duas, pelos menos, bastante interessantes. Primeiro que há a possibilidade de que uma terceira pessoa aparecer retratada. Além do engraxate e seu cliente, haveria alguém em uma das janelas do prédio em primeiro plano. Em uma delas, nota-se uma cortina e uma abertura. No espaço o que seria um possível rosto (de uma criança ou de alguém de estatura baixa) que observa o lado de fora. Algo que, claro, é inconclusivo. A segunda questão, mais polêmica, é a afirmação de estudiosos de que as pessoas que aparecem na foto não estariam paradas por acaso. O professor e crítico de fotografia Ronaldo Entler, em entrevista concedida ao G1 , lembra que o fotógrafo e estudioso espanhol Joan Fontcuberta, defende que a cena do engraxate na verdade foi “forjada” por Daguerre. o argumento do crítico é balizado pelo fato de que o estúdio de Daguerre se localizava justamente naquela região da cidade. Assim, o fotógrafo teria combinado com os dois retratados para que eles ficassem ali, estáticos, durante o tempo que uma fotografia levava para ser fixada no papel. Conheça mais da história da fotografia, aqui. Primeira foto Niepce conseguiu fixar a imagem, em maio de 1826, com sua Mesa Posta. Apesar da celebração do feito de Daguerre nos dar um marco definitivo para a história da fotografia, experiências anteriores se entrelaçam com a dele. A principal delas aconteceu em 9 de maio de 1826. Usando uma caixa de madeira, o francês Joseph Nicéphore Niepce conseguiu, pela primeira vez na história, gravar uma imagem numa folha de papel sensibilizado quimicamente. Niepce (1765–1833) colocou uma folha de papel sensibilizado quimicamente dentro de uma câmara primitiva apontada para uma mesa posta em seu jardim. Depois de várias horas, ficou gravada no papel uma tênue imagem, considerada hoje a primeira fotografia do mundo. O êxito, entretanto, parece mais ter sido obra do acaso, pois as primeiras fotografias realmente estáveis, que não desapareciam quando expostas à luz, estão separadas umas das outras por muitos meses e até mesmo anos. Paralelo aos trabalhos de Niepce, Daguerre (1787–1851) também fazia experimentos. usando o mesmo método da câmara escura. Em 1826, ele começou uma sociedade com Niepce, para a troca de informações. Depois que o sócio morreu, em 1833, Daguerre prosseguiu com as pesquisas sozinho, mas abandonou o papel sensibilizado e se dedicou à placa polida de metal. Uma outra invenção dessa época é a que aconteceu em solo brasileiro. O francês Hercule Florence dizia ter tido ideia inicial em Campinas em agosto de 1832. Pesquisa comprovou o ocorrido 140 anos depois. “Neste anno de 1832, no dia 15 de agosto, estando a passear na minha varanda, vem-me a ideia que talvez se possa fixar as imagens da camera escura, por meio de um corpo que mude de cor pela acção da luz.”, registrou Florence, à época. Leia mais, aqui. De Vinci à indústrialização No século 19, as invenções e descobertas relacionadas com a Revolução Industrial possibilitaram que se fixasse, em papel ou em metal. A trajetória do “descobrimento” da fotografia, no entanto, começou muito tempo antes aos inventores da sociedade que tateava a industrialização e os recursos químicos dela. No século 15, por exemplo, Leonardo da Vinci descrevera o método e os efeitos da câmara escura. Ele havia constatado que, se na janela de um quarto totalmente escuro fosse recortado um pequeno furo, a imagem do que estava do lado de fora da janela seria projetada na parede dentro do quarto. Só que de cabeça para baixo. As proporções, no entanto, seriam perfeitas. Depois disso, vários pintores e desenhistas adotaram esta técnica para reproduzir a realidade, através de caixas de madeira pintadas de preto, as chamadas câmaras escuras. Guatá / Fonte: G1 e DW