Vou precisar detalhar porque é nos detalhes que está o todo. É por isso que me ponho aqui, nessa recuperação/invenção. Preciso ver. E vejo melhor enevoada, pelo chope, pela fumaça, em meio às buzinas da avenida do centro da cidade, espantosamente raras. Há uma concordância, uma aquiescência com o engarrafamento, com os ônibus à toda que pegam o sinal já fechando, fechado. Todos sabem, esperam, este não vai parar. E seguram as sacolas do fim de tarde, da ida para casa, a concordância também nisso, de que é preciso comprar o pão, o presente, o papel higiênico. É nos detalhes que tenho a esperança esteja o todo que busco. Este, privado daqueles, esfarela-se. Não. Para isso ele teria de existir antes dos detalhes que se lhe agregam, ser sustentado por eles. E é o contrário. É a partir deles que monto um todo que ainda não sei qual vai ser e do qual dependo para decidir se vou para um lado. Ou outro. Se continuo, ou sumo. Voltando então aonde estava. Eu estava com mais uns nada ou pouco mais do que nada. A nudez de Rose. A nudez de Rose surge – e escolho o que se segue como escolheria feijão, se feijão ainda se escolhesse, este grão e não o outro. A nudez de Rose surge de algo anódino, decido. Ou adivinho. Este grão e não o outro. Por exemplo, há um raio de sol que bate no sofá e que o manchará caso nenhuma providência seja tomada. Contar com Arno para uma providência é disparate que Rose aprende cedo a não fazer.
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