Cena do curta Olho da Rua, produzido pela Orquestra de Câmara (Ocam) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP – Foto: Reprodução
Orquestra de Câmara da USP faz vídeo em favor dos moradores de rua. Em parceria com o padre Júlio Lancellotti, iniciativa visa a ajudar uma das mais sofridas parcelas da sociedade
“Neste momento, sermos apenas empáticos já não está adiantando.” A reflexão é do maestro Gil Jardim, diretor artístico e regente titular da Orquestra de Câmara (Ocam) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, justificando a realização do curta-metragem Olho da Rua. Disponível no canal da Ocam no Youtube, o curta foi produzido pela orquestra com o objetivo de arrecadar recursos para ajudar a população de rua.
Todo o dinheiro arrecadado será doado para a Pastoral de Rua, dirigida pelo padre Júlio Lancellotti. “Temos realmente que agir, colaborar, fazer a diferença. Continuar focados em nossos trabalhos da mesma maneira que sempre fizemos não é um mérito, é estar indiferente ao que está acontecendo fora da bolha em que vivemos. É continuar na zona de conforto, é se omitir”, enfatiza Jardim.
Assista no link abaixo ao curta Olho da Rua, produzido pela Orquestra de Câmara da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP.
Além da Ocam, participam da produção o Coral Paulistano Mário de Andrade, o rapper Kamau, o MC Lucas Afonso, as poetas de slam Luz Ribeiro e Mel Duarte, performers de dança e o padre Júlio Lancellotti, conhecido pelo trabalho de anos em favor da população que vive nas ruas. A concepção do curta e a direção artística são de Jardim, enquanto a produção é da Tilt Rec e da Bicho, com coprodução da Porqueeu Filmes.
Segundo o maestro, a iniciativa para a campanha surgiu quando percebeu que as ações feitas pela Ocam no ano passado não eram mais suficientes. Em 2020, a orquestra produziu quatro audiovisuais, com diferentes parceiros: Temos Por Quem Lutar, Inumeráveis, Pai Grande e Raízes Profundas. “Todos esses audiovisuais foram obras engajadas com o momento histórico brasileiro”, diz Jardim.
“Dada a gravidade da situação nas ruas, precisávamos agir efetivamente. Foi quando decidi fazer essa campanha para angariar fundos para a população em situação de rua, cada vez maior em nossa cidade”, relata o maestro. “Procuramos diretamente o padre Júlio Lancellotti, uma figura emblemática no socorro aos moradores de rua. Contei para ele o que imaginava e ele foi muito receptivo e agradeceu pela ajuda.”
O curta-metragem promove um diálogo entre as linguagens clássica e popular, ao mesclar obras musicais com declamações dos quatro artistas, poesias sobre o direito à alimentação e a denúncia das condições de vida da população de rua. Gravadas em um galpão, as declamações ganham força com performances coreografadas por Fernando Barcellos. “Cada um dos poetas criou e declamou seus textos de forma integral, de quatro a cinco minutos. No vídeo, os trechos foram escolhidos e editados por Tiago Berbare”, conta Jardim.
Num desses trechos, o MC Lucas Afonso afirma:
Pandemia, desemprego, tá vazio o armário
Como pode aumentar a fome e a renda dos bilionários?
Tá tudo ao contrário
Relatos do padre Júlio Lancellotti completam o filme. “Acredito que uma primeira ajuda é uma que todos podem fazer e que não custa nada. Não discrimine. Não tenha preconceito. Seja humano”, ressalta Lancellotti no curta. “A compaixão não é uma dimensão religiosa. É uma dimensão humana.”
Quanto à trilha musical, Jardim optou pela música contemporânea, cuja textura possibilita um cenário sonoro compatível com um tema tão urgente e desesperador como a fome, o que faz com que o incômodo fique explícito.
O curta traz três obras de compositores brasileiros que foram lançadas em 2019 pela Ocam no CD Sons sobre Tons: Fibers, Yarn and Wire, de Alexandre Lunsqui, A Menina Que Virou Chuva, de Valéria Bonafé, e A Escuridão, o Corpo Vermelho e o Fascínio, de Yugo Sano Mani.
Uma quarta composição, especialmente gravada para o curta, é Dies Irae (“Dia da Ira”, em latim), do Réquiem em Ré Menor (KV 626), de Mozart, que, para Jardim, “é certamente uma das partes mais contundentes dessa obra tão emblemática”. Na versão, há colaboração do Coral Paulistano Mário de Andrade, do Teatro Municipal de São Paulo. “A maestrina Maíra Ferreira e o elenco de cantores do coro foram receptivos e absolutamente eficientes em nossa proposta”, diz Jardim. A gravação foi feita pelos cantores e instrumentistas em suas casas, através de celulares.
Jardim destaca que, há quatro anos, o maestro Martinho Lutero Galati, então diretor do Coral Paulistano, morto em 2020 em decorrência da covid-19, executou a mesma obra na abertura da temporada da Ocam, unindo os dois organismos musicais.
O maestro considera que, apesar da beleza das obras escolhidas e de suas devidas execuções, elas são coadjuvantes na narrativa do filme-campanha. A mensagem está na voz do padre e dos poetas e na captação e edição das imagens. A música, por sua vez, “cria o cenário sonoro para que a mensagem principal possa ser dita com contundência: ‘Se tem gente com fome, aja’”, na declamação da poeta e pedagoga Luz Ribeiro, por exemplo.
Sobre a participação de Júlio Lancellotti na campanha, Jardim diz que “a luta diária e radical do padre tem sido exemplo para todos nós. Sua ação de fato nos impulsiona a agir com relação aos moradores de rua e toda situação caótica da realidade que vivemos”.
O maestro revela que está sendo uma honra – para ele e para a Ocam – poder contribuir ativamente para o País enfrentar o momento atual. A expectativa é que o curta “se transforme em milhares de marmitas quentes, em calçados e agasalhos para a população imensa que está nas ruas”, afirma. “Tomara que toda a Universidade de São Paulo e nossas universidades parceiras se mobilizem nessa direção”, completa Jardim.
O curta-metragem Olho da Rua está disponível no canal do Youtube da Ocam. Mais informações podem ser obtidas nos canais da orquestra no Instagram e no Facebook. As doações para a campanha podem ser feitas através do Pix 63.089.825/0097-96 e por depósito em conta bancária (Banco Bradesco, agência 0299, conta corrente 034857-0, CNPJ 63.089.825/0097-96), em favor da Paróquia São Miguel Arcanjo da Mitra Arquidiocesana de São Paulo.
(Fonte: Da página Jornal da USP)
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