Vista do centro de Foz do Iguaçu nos primórdios de seu desenvolvimento – Foto: IBGE Cidades/reprodução
Por Paulo Bogler Foram três dias de viagem, devido à neblina intensa, quando sua família decidiu trocar Posadas, na Argentina, por Foz do Iguaçu. Era o ano de 1915. O convite partiu de Jorge Schimmelpfeng, o então prefeito, que já via a cidade como um polo promissor de turismo.
O objetivo era implantar um hotel. Em entrevista rara, no sentido do valor histórico, veiculada pelo jornal Nosso Tempo, em junho de 1982, a pioneira Elfrida Engel Nunes Rios conta a trajetória de sua família, que se confunde com a própria história de Foz do Iguaçu em seus primeiros passos.
“Todo o transporte era feito pelo rio Paraná e tudo o que era consumido aqui vinha da Argentina”, rememora. “Ali onde está o Bamerindus [depois, banco HSBC, na Avenida Brasil] havia um casarão que fora da Colônia Militar, transformado em hotel.”
Quando família pioneira desembarcou, lembra, havia um pequeno traçado de cidade, circunscrito à Avenida Brasil e a um pequeno trecho da Avenida Jorge Schimmelpfeng. E um quarteirão sem edificações, na região dos Correios, que seria destinado a uma praça central.
A energia elétrica provinha de uma usina, que operava até perto da meia-noite. Os estabelecimentos se dividiam entre “hotéis, casas comerciais, botecos”, resgata Elfrida. O movimento, de fato, era gerado pelas obrajes, que consistiam na extração de madeira e erva-mate.
Imprensa? Somente quando viajantes, principalmente argentinos, desembarcavam na fronteira com exemplares de jornais. “Utilizava-se muito o telégrafo, que foi instalado pela Colônia Militar em 1906”, complementa.
As comunicações dos primeiros iguaçuenses se davam pelos Correios, com correspondências vindas de Guarapuava (PR), sobre “lombo de burro”. Assim, o chamado maleiro se deslocava até Catanduvas (PR) e, de lá, transferia as malas para Foz do Iguaçu, aqui distribuídas a cavalo, a cada quinze dias.
Quando foi publicada a entrevista pelo Nosso Tempo, na sessão “Pioneiros”, Elfrida Engel Rios era septuagenária. O jornal a qualificou como sendo “uma das pessoas que mais se dedicam à preservação da história de Foz do Iguaçu.”
Seu relato inclui detalhes sobre os primórdios da educação na cidade e a passagem dos tenentistas por Foz do Iguaçu. O trabalho braçal na extração de erva-mate, a estrada entre Foz do Iguaçu e Guarapuava e o lento desenvolvimento da cidade fazem parte das reminiscências.
Elfrida Engel Nunes Rios (1905-1991) dá nome à Biblioteca Pública de Foz do Iguaçu. É filha de Frederico Engel Rios e Carolina Engel Becker. Foi da família o Hotel Brasil, que em 1916 hospedou Santos Dumont no quarto número 2. Elfrida dirigiu a loja Casa Jacy.
A pioneira foi casada com Antonio Nunes Rios, com quem teve três filhos. Teve grande atuação em causas sociais e sempre empunhou a bandeira do resgate e promoção da história de Foz do Iguaçu como fator de cidadania. Por sua iniciativa, a imagem de Santos Dumont no Parque Nacional do Iguaçu é um desses marcos.
ACESSE a reportagem original na íntegra.
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*Texto produzido sem pesquisa adicional. Na versão original, é possível haver incorreções de datas e nomes devido à composição manual da época.
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