. As belezas naturais sempre me impressionaram. E não me refiro apenas às belas cachoeiras de Foz do Iguaçu, às praias paradisíacas de Jericoacoara ou àqueles lugares pelos quais ainda sofro do desejo de conhecer. Falo também do cerrado minguado de Santana, com suas arvorezinhas retorcidas que mais parecem bonsais, e que certamente amarraram as raízes voluntariamente, disfarçando a própria vida da radiação intensa e das chuvas torrenciais da linha do Equador. . Cansei-me de procurar vocábulos que pudessem descrever meu encantamento. Mas quando cheguei a Imperatriz pela primeira vez, tive a oportunidade de conhecer uma expressão que traduzirá, por toda a minha existência, a exaltação que sinto diante das excêntricas criações da vida: ” é tão tanto!!”. . Sr. Eurico certamente não tem ideia da inovação linguística que gerou. E nem eu me atreveria a defendê-la publicamente diante dos ilustres literatos da academia. Nem desafiaria o Segala, o Luft ou o Aurélio a um duelo entre o “indescritível”, o “exuberante”, o “excêntrico”, o “fascinante”, qualquer um deles, e o ” é tão tanto”. . Não se trata de incredulidade diante do singelo e tão pouco letrado “é tão tanto”, mas de uma consciência – talvez não muito comum entre o público erudito – da supremacia do sentir sobre o saber. . Posso, por exemplo, saber muito sobre a beleza úmida da floresta atlântica. Suas espécies, sua temperatura, a cor da água de seus rios, o número de horas de luz no seu interior, posso inclusive ouvir o som de suas aves no meu “cd player”. Mas estar dentro dela e perceber seus aromas, a umidade do ar na pele, ouvir os sons, ver e enxergar tantas cores e formas, mergulhar na água fria de seus rios, tudo ao mesmo tempo… Ah, isso sim, “é tão tanto”… E para desfrutar de todo este prazer e atingir a felicidade infantil do deslumbramento, posso, inclusive, ignorar qualquer conhecimento primário de botânica, limnologia, meteorologia, e ainda me abster de qualquer adjetivo “pertinente”. Concordo (humildemente) com Fernando Pessoa: sentir é estar distraído… . E este sentir, sim, “é tão tanto” que nem mesmo todos os dicionários, com suas coleções incontáveis de adjetivos e seus sinônimos seriam capazes de descrever. E é por causa desta incompetência semântica das palavras aprendidas e enquadradas em sua identidade gramatical é que continuo um profeta incansável do ” é tão tanto”. Amém.
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