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. Alguns dias após o golpe militar de 1964, eu fui orientado pela Direção do PCB a passar algum tempo fora do Rio de Janeiro, pois a repressão andava atrás de mim devido às minhas atividades no Movimento Estudantil e no Plano Nacional de Alfabetização de Adultos. O método Paulo Freire era considerado altamente subversivo pelos golpistas de abril.
. Pois bem, ordem dada, ordem cumprida, e lá fui eu me recolher na Vila de Conceição da Boa Vista, em Minas Gerais. Na minha bagagem levei o 18 Brumário de Luiz Bonaparte, de Marx e um LP, de Sérgio Ricardo, cantor e compositor de músicas inspiradas na realidade social brasileira, também chamadas de músicas de protesto.
. No meu segundo dia na paradisíaca vila da Zona da Mata, minhas primas organizaram um baile pra homenagear o primo que havia chegado do Rio. E foi um tal de “Calhambeque”, “Pare o Casamento”, “Namoradinha de um Amigo Meu” e outros sucessos da Jovem Guarda. A animação era grande, até que eu tirei o LP do Sérgio Ricardo e o coloquei na eletrola.
. Primeiro tocou “Barravento” https://youtu.be/vQEmS-lgLmE, e ninguém saiu dos bancos posicionados junto às paredes. Então troquei de faixa e coloquei pra tocar “Enquanto a Tristeza Não Vem” https://youtu.be/N6f-2DLTTFk. Piorou. O baixo astral continuou com todo mundo borocoxô, até que uma das primas tomou atitude e tirou a tristeza do toca-disco e lascou “Banho de Lua”. Então, animação voltou ao som do ye ye ye cantado por Celly Campello.
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