No início não tem tinha nem dia nem noite. No início do mundo as coisas eram todas mal feitas.
(*) Lenda recopilada por Aturi Kayabi, pesquisador e professor indígena, in Geografia Indígena. Parque Indígena do Xingu. MEC/SEF/DPEF – Instituto Socioambiental, Brasília, 1988
O Dia e a Noite, segundo os Karajás:
No começo do mundo só havia dia. A noite estava adormecida nas profundezas das águas com Boiúna, uma cobra grande que era senhora do rio. A filha de Boiúna, uma moça muito bonita, havia se casado com um rapaz de um vilarejo, nas margens do rio. Na hora de dormir, ela não conseguia e explicava para o marido: – É porque ainda não é noite! Um dia, a moça pediu ao marido que fosse buscar a noite na casa de sua mãe. Ele mandou três amigos às profundezas do rio para falar com Boiúna. Boiúna colocou a noite dentro de um caroço de tucumã, uma fruta da palmeira, e mandou entregar como se fosse um presente para sua filha. Os três amigos carregavam o tucumã quando ouviram o barulho de sapinhos e grilos, bichinhos que só cantam à noite. Curiosos, resolveram abrir o tucumã para ver que barulho era aquele. Quando o tucumã foi aberto, a noite escapou e tomou conta de tudo. O mundo virou uma escuridão só. A filha de Boiúna viu o que tinha acontecido e tentou separar a noite do dia. Pegou dois fios, enrolou o primeiro, pintou de branco e disse: – Você será Cujubim e vai cantar sempre que o dia nascer. Então, soltou o fio, que se transformou em pássaro, e saiu voando. Depois, enrolou o outro fio, jogou cinza sobre ele e disse: – Você será Coruja, e cantará quando a noite chegar. A coruja saiu voando. A partir desse dia, o mundo passou a ter dia e noite.
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