O Relógio, poema de João Cabral de Melo Neto

O poeta pernambucano nasceu em 9 de janeiro de 1920 e viveu até 1999.

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Ao redor da vida do homem
há certas caixas de vidro,

dentro das quais, como em jaula,
se ouve palpitar um bicho.

Se são jaulas não é certo;
mais perto estão das gaiolas
ao menos, pelo tamanho
e quadradiço de forma.

Umas vezes, tais gaiolas
vão penduradas nos muros;
outras vezes, mais privadas,
vão num bolso, num dos pulsos.

Mas onde esteja: a gaiola
será de pássaro ou pássara:
é alada a palpitação,
a saltação que ela guarda;

e de pássaro cantor,
não pássaro de plumagem:
pois delas se emite um canto
de uma tal continuidade.

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João Cabral de Melo Neto (1920-1999), escritor, poeta e diplomata brasileiro.