Cena do documentário Verissimo – Foto: Divulgação
Durante toda sua trajetória, o escritor Luis Fernando Verissimo eternizou em crônicas, contos, tiras, quadrinhos e romances sua crítica ao autoritarismo e à ditadura civil-militar.
Essa posição foi lembrada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao prestar homenagem ao célebre escritor, que morreu no dia 30 de agosto, em Porto Alegre, aos 88 anos.
Ao citar a criação de “personagens inesquecíveis”, como o Analista de Bagé, As Cobras e Ed Mort, Lula destacou que Veríssimo “como poucos, soube usar a ironia para denunciar a ditadura e o autoritarismo; e defender a democracia”.
O jornal Brasil de Fato reuniu quatro obras icônicas de Veríssimo que enfrentaram o regime civil-militar e seu legado.
A Velhinha de Taubaté se tornou ícone nacional e foi criada em uma crônica em 1983, no período final da ditadura no país, durante a gestão de João Batista Figueiredo, o último presidente do regime. A personagem era apresentada como “a última pessoa no Brasil que ainda acreditava no governo”.
A obra também era vista como uma homenagem divertida a Taubaté (SP), berço de nomes como Monteiro Lobato, Mazzaropi e Hebe.
A Velhinha de Tabauté Crédito/Arquivo
Luiz Fernando Verissimo publicou entre 1975 e 1999 a tira As Cobras em jornais do país, principalmente em Zero Hora. As personagens principais são duas serpentes que discutem temas que vão desde política e futebol até a imensidão do universo.
Segundo o escritor, elas tinham nascido para traduzir através do desenho o que suas palavras estavam impedidas de dizer durante a censura da ditadura.
As Cobras, de Luiz Fernando Veríssimo. Crédito/Arquivo
Publicado em 1982, o conto “O condomínio”, de Luis Fernando Veríssimo, conta a história de João, um ex-militante de esquerda que se muda para um luxuoso e recém-construído condomínio fechado e se depara com o homem que o torturou no elevador.
“O condomínio” ecoa os princípios de reconciliação nacional expressos na Lei da Anistia de 1979 em um momento em que o Brasil vivia a transição democrática.
Lançado em 2004, o conto “A mancha” integra a coleção “Vozes do golpe”, publicada pela Companhia das Letras. O conjunto de textos narra os últimos momentos do governo de João Goulart no Brasil e como foi ver surgir e viver a ditadura.
Na obra de Luis Fernando Veríssimo, o protagonista Rogério, que foi torturado pelo regime de 64, volta do exílio após o fim da ditatura, e ao passar a trabalhar no ramo imobiliário, acaba visitando o prédo em que foi submetido a tortura.
“O conto é sobre a derrota de uma geração que apostou em mudanças, mas que foi engolida pelas forças conservadoras, pelos valores do capital. E por essa via a narrativa faz uma leitura primorosa da elite brasileira, inclusive, ou sobretudo, da que dá suporte ao bolsonarismo”, escreveu sobre “A mancha” o escritor e professor de literatura da Universidade Federal da Paraíba Rinaldo de Fernandes.
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