Oferenda, poema de Negendre Arbo

Venho até vocês como um vento antigo

Já não sou mais eu, sou o que trago

Minha identidade se perdeu

Tão maior que eu é o que carrego comigo

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Nunca soube ao certo o que vocês querem de mim

Povo da penumbra, vocês são sempre os mesmos

Silhuetas negras, olhos flutuando na escuridão

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Eu não criei esta canção

Apenas traduzi a paisagem

Cantar é a única razão que encontramos

Para seguir viagem

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Trouxe oferendas para vós

As entrego como aos deuses primitivos

A carne sangrenta de meu coração vadio

Melodias que aqueceram as noites de frio

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Eis o pouco que sobrou de minha inocência

Meu mal estar profundo

Minha atávica descrença:

Minha indiferença ao mundo

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E todo o meu amor, este carcinoma impuro

Nada mais possuo, isso é tudo.

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Eu não criei esta canção

Apenas traduzi a paisagem.

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Negendre Arbo é músico em Foz do Iguaçu, Pr. Texto publicado na revista Escrita nº 33.