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Animais silvestres em áreas habitadas são cada vez mais frequentes e isso mostra que a natureza está em desequilíbrio. Foto: Divulgação
Cansada de apresentar notícias pesadas, que vão desde a morte de moradores em favela ao horror da inflação, a apresentadora da TV anunciou que traria dois vídeos para dar uma aliviada. Logo imaginei que seria algo com criança ou animal, fazendo graça.
No primeiro, era o caso de um jacaré que fisgou um drone que foi xeretar sua vida, no meio da lagoa, no Tocantins. Sim, o jacaré saltou dois metros em direção ao objeto não identificado, para ele, que custou ao seu operador a quantia de 7 mil reais. Lacrou mas não lucrou, diriam as redes sociais. O caso viralizou.
https://www.youtube.com/watch?v=0CVs6T23nHE
Vídeo flagra o momento em que o jacaré salta para fisgar o drone. Vídeo: Divulgação – UOL
Mas o que me chamou a atenção foi mesmo a matéria a respeito de uma onça que foi flagrada pelas câmeras de um condomínio no Vila da Serra, em Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte. A apresentadora achou fofo, no final até completou que as câmeras também filmaram a onça na floresta do condomínio.
Não é fofo um animal silvestre aparecer em área residencial. Isso significa que seu ambiente natural está em perigo, que está sofrendo interferências humanas de tal modo, que o animal saiu do seu habitat rumo a uma área pertencentes aos humanos, seus maiores predadores. Lembrando que em Belo Horizonte, a Serra do Curral está sendo ameaçada pela mineração. Nova Lima é uma das cidades que abrigam a Serra, que de tão importante que é, consta na bandeira de Belo Horizonte.
Outro problema foi dizer que a área de floresta pertence ao condomínio. Como é que é? Quer dizer que havia um condomínio no local e então veio a floresta, com todos os seus inquilinos, e brotaram todos na área residencial?
Pode parecer exagero, mas esses pontos nos levam a pensar o quanto estamos longe da tal da sustentabilidade, do ecologicamente correto. Eu sei, eu sei que uma pauta pode ser concebida com uma ideia e para o público ser apresentada outra coisa. Mas por quantos profissionais essa notícia passou? Qual a visão de mundo de uma apresentadora que achou fofo um animal selvagem circular em área residencial? Se uma pessoa que vive, literalmente, por conta da informação e tem esse pensamento, o que esperar do ‘cidadão comum’ que recebe tal conteúdo?
Qual a saída? Educação Ambiental.
Do mesmo modo que precisamos de Educação Sexual nas escolas, para que as vítimas saibam se defender e denunciar abusos, precisamos de Educação Ambiental dentro e fora dos espaços formais de educação, para a sociedade compreender a dinâmica ambiental. Para que tanto a apresentadora de TV como o público tenham uma leitura além de ‘fofa’ de uma onça fora de seu habitat.
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