Corria um tempo em que, como se diz, se amarrava cachorro com linguiça e se ganhava dinheiro a rodo. Amavam – se mulheres finas, admiráveis, beldades que se revezavam, lindas e muitas trazidas e chegadas de todas as partes. Havia chilenas, argentinas, mexicanas, bolivianas, as melhores cariocas, gauchas, paulistas e uruguaias. Só se bebia champanhe francesa e scotch importado. Os cigarros eram americanos e acesos, alguns ao fogo de notas enroladas de cinco mil réis, na meio penumbra de mesas ricas dos bordéis de Londrina. O dinheiro rolava solto, ágil, fácil e muito. Inesperado. O herói era o café de quem nunca se esperou tanto. A heroína era a terra roxa, firme, forte na cor e na fertilidade. Mas Londrina aceitava, o desafio da loucura do café e assumia a si mesma. Esbanjando à grande, gulosamente festiva e boêmia a cidade cumpria a sua contradição – chegava aos vinte anos de vida e já era capaz de ganhar mais do que produzia, gastar mais do que necessitava, aproveitar menos do que podia assimilar. E, sem nenhuma raiz, trouxe todas as raízes de fora. Como num golpe, como num susto, o movimento inflacionário deu partida. O meio circulante, o dinheiro, de um salto acompanhou o pulo dos preços do café. Fazendeiros, cafeicultores, exportadores, corretores, toda a gente ligada ao café estava rica da noite para o dia.
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