Será orvalho ou madrugada quando o que se sente não é nem afago nem suor-temporal? Um retalho de céu esculpido em fronteiras que o vento balança. Pelas frestas e copas de árvores gigantes jorram aos montes mariposas e estrelas. Luzidias criaturas a escorrer entre os galhos e pelos dessas deusas madeira – tão verdes, serenas- de folha ou de fruto. Murmúrios, morcegos, floreiras, silêncio bravio na corda dos nervos. Ali anoitece, no suspiro das pedras, cachoeiras, peraus, no sangue dos rios a correr e andar. Resistência na terra, como se fera querendo parir. E nascem milhões: sementes de espera no cio das restevas com trigo maduro e mãos de porvir. Permaneces no corpo, na seiva das plantas, na carne dos bichos, na carne do homem (que é bicho também). Se parto, me partes, coisa tão inteira: tão parte daqui, tão parte de mim. _______________________________________ Dan Dorneles estuda Letras Español Português como Línguas Estrangeiras na UNILA, em Foz do Iguaçu, Pr. Imagem: Lua em Foz do Iguaçu, céu de fronteira. Texto e foto inseridos na edição 49 da Escrita.
Assine as notícias da Guatá e receba atualizações diárias.