Desde o mês de setembro, os alunos da Escola Municipal Arnaldo Isidoro de Lima, localizada na Vila C, participam de aulas de espanhol, ministradas por docentes e estudantes da UNILA. Já na Escola Municipal Írio Manganelli, no Morumbi, as crianças estão tendo, semanalmente, aulas de inglês. A implantação das aulas de idiomas, que ainda está em fase experimental, foi possível graças a um convênio assinado entre a UNILA e a Secretaria Municipal de Educação (SMED).A longo prazo, as aulas devem ser estendidas para todas as escolas municipais e poderão ser ministradas pelos próprios professores do município, que já vêm sendo capacitados para este fim. A iniciativa faz parte da Agenda Tríplice – programa institucional da UNILA que apoia projetos sobre temas prioritários para a fronteira trinacional. De acordo com o professor Ariel Matías Blanco, responsável pelas aulas de espanhol, o projeto tem uma perspectiva intercultural, interdisciplinar e plurilíngue. “Antes de iniciar as aulas, nós convocamos a comunidade para apresentar o projeto. Muitos pais compareceram e nós conseguimos explicar nossas estratégias de ensino e de avaliação. Além disso, nós estamos em diálogo constante com os professores das outras disciplinas para avaliar quais temáticas podemos trabalhar de forma conjunta. A interdisciplinaridade e a empatia com a diversidade são duas características essenciais das aulas”, explica.
Ao todo, são 60 alunos do primeiro ao quinto ano que participam das aulas de espanhol. Blanco ministra as aulas com quatro estudantes bolsistas da UNILA. “Eu sou argentino e, entre os bolsistas, temos um chileno, dois colombianos e um brasileiro. É uma representatividade interessante para trabalhar a diversidade da língua e da cultura.”Já as aulas de inglês estão sendo ministradas por estagiários alunos da Unioeste e do IFPR, com o acompanhamento da professora Laura Fortes, da UNILA. “Essa iniciativa tem dado maior visibilidade à questão das línguas na Escola e na região, principalmente porque se trata de uma abordagem intercultural, que busca promover a diversidade de línguas e culturas com as quais a comunidade convive. Além disso, a iniciativa vem ao encontro das demandas da Rede Municipal de Ensino de Foz do Iguaçu”, salienta Laura.Por enquanto, as aulas ainda são realizadas em caráter experimental. Porém, UNILA e SMED já discutem a implantação de espanhol e de inglês no currículo da rede municipal. “Focando que estamos em uma região de fronteira, onde é corriqueiro que circulem várias línguas, a escola é uma instituição fundamental para o aprendizado e o contato linguístico. Aprender um idioma auxilia na capacidade de reconhecer nos outros aquilo que no identifica e aquilo que nos diferencia. A partir desse olhar para o outro, aprendemos sobre cidadania – e isso é de fundamental importância no nosso contexto de fronteira”, diz a professora Jorgelina Tallei, coordenadora do projeto.
Escolas municipais tem 568 alunos estrangeiros, principalmente paraguaios e venezuelanos
O projeto surgiu por demanda da própria SMED, que sentiu necessidade de preparar os profissionais da educação para trabalhar com a diversidade cultural e linguística encontrada nas salas de aula das escolas municipais de Foz do Iguaçu. Atualmente, a equipe é constituída por 10 professores, 5 discentes e uma servidora técnica da UNILA, além de 20 colaboradores de instituições parceiras, como a SMED, Unioeste e IFPR.Além das aulas, faz parte do plano de trabalho do convênio – firmado entre UNILA e Prefeitura –, a elaboração de um protocolo de acolhimento aos estudantes imigrantes das escolas municipais. Para isso, será realizada uma pesquisa sociolinguística, nas 51 escolas que integram a rede. De acordo com dados preliminares, atualmente, as escolas municipais têm 568 alunos estrangeiros. Em maior número estão os alunos paraguaios e venezuelanos. “Nesse levantamento inicial, as informações sobre as línguas faladas no ambiente familiar das crianças não foram observadas, pois apesar de algumas crianças terem o registro de nascimento brasileiro, são de famílias paraguaias, por exemplo, e muito provavelmente em seu ambiente familiar a língua em circulação seja o espanhol ou o guarani”, alega a professora Laura Amato. O maior número de alunos não brasileiros está na Escola Adele Zanotto, localizada no Porto Meira, próximo à fronteira com a Argentina, e na Escola Elenice Melhorança, da região Central. Laura propôs um projeto de pós-doutorado que tem, entre os objetivos, analisar a realidade sociolinguística das escolas municipais de Foz do Iguaçu. E, a partir do detalhamento dessas informações, propor práticas de acolhimento dessas crianças, que convivem com essa realidade linguística diversa em casa e na escola. “Esse novo protocolo será uma ferramenta importante para orientar os professores sobre a recepção inicial dessas crianças. São informações técnicas que podem auxiliar a formular atividades didáticas e adequar os instrumentos de avaliação para os alunos recém-chegados de outros países”, complementa Matias Blanco. A previsão é que o protocolo seja lançado no final do ano, em um seminário aberto.
O tema da educação de fronteira também é objeto de pesquisas na Iniciação Científica da UNILA. A estudante de História – América Latina, Bárbara Ferreira de Lima, estuda a situação das crianças falantes de espanhol nas escolas municipais de Foz. Recentemente, a aluna apresentou um artigo sobre as dificuldades e enfrentamentos que se desenvolvem no cotidiano escolar e recebeu menção honrosa no 30º Simpósio Nacional de História, realizado em Recife (PE).Bárbara analisou 13 projetos político-pedagógicos (PPPs) e realizou observações em três escolas municipais, buscando compreender se os projetos conseguem auxiliar os professores a lidarem com a diversidade de línguas e culturas das escolas municipais. “Os PPPs, assim como os currículos, são instrumentos linguísticos que transmitem discursos que se materializam na prática cotidiana dos professores. Diante disso, existe a necessidade de assegurar institucionalmente a reflexão deste debate nas escolas de fronteira, pois os professores já lidam com a realidade de crianças latino-americanas. Agora necessitam de respaldo institucional para conseguirem repensar suas práticas pedagógicas, como, por exemplo, por meio da formação continuada”, defende a discente.
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