Reprodução da foto publicada pelo jornal Nosso Tempo, em 1981.
H2Foz / Paulo Bogler Para quem não desgruda do celular para nada, talvez seja difícil imaginar como seria ter um único aparelho de telefone público no bairro. E não era uma localidade pequena, mas a região do Morumbi, conhecido antigamente como Rincão São Francisco, com mais de 20 mil moradores.
Em 1981, o jornal Nosso Tempo expôs o problema na edição n.º 10, sem poupar a crítica dos moradores ao órgão responsável pelo serviço, a antiga Telepar. O jornal circulou em Foz do Iguaçu nas décadas de 1980 e 1990, e dava voz às comunidades populares, com linha editorial de oposição à ditatura militar e ao regime de interventores na prefeitura.
O título da matéria não poderia ser mais chamativo: “Orelhão causa briga no Rincão S. Francisco.” Moradores do bairro, que vivia a expansão por conta das obras da Itaipu Binacional, reclamavam do tratamento desigual: no Morumbi, um só orelhão, enquanto sobravam aparelhos na região central.
“Na cidade [área do centro] você encontra um orelhão em cada esquina. Aqui tem um só para todo esse pessoal”, reclamava o carpinteiro José Antonio de Jesus, nas páginas do Nosso Tempo. “Será que a Telepar não entende que o nosso dinheiro vale a mesma coisa que o do pessoal da cidade?”, completava a queixa do homem de 30 anos na época.
A situação complicava ainda mais em casos de urgência, narrou ao jornal Maria da Conceição Alves, moradora do bairro que usava o orelhão com frequência e chegou a presenciar brigas por causa da fila no único telefone público de então. Em um dos casos, uma mulher tinha de comunicar ao marido com urgência um acidente com o filho, mas amargou meia hora de espera.
“E não conseguiu telefonar”, contou. “Tá certo que tem muita menina que fica de 5 a 10 minutos namorando, mas elas estão pagando para telefonar e tem os mesmos direitos os outros”, emendou. “Bota aí no jornal que a Telepar não presta mesmo. Todo mundo sabe que pouco custaria instalar mais alguns aparelhos”, cobrou Maria.
O portal Nosso Tempo Digital reúne todo o acerto do jornal, projeto lançado para marcar o aniversário de 30 anos do periódico rebelde. O objetivo é preservar a memória da cidade, facilitar o acesso à história local e regional, e democratizar a consulta ao acervo midiático por meio da internet.
O acesso ao Nosso Tempo é gratuito. O acervo constitui fonte valiosa para o morador desejoso de vasculhar na história da cidade e de seus atores, contada nas 387 edições do jornal que foram digitalizadas, abrangendo de dezembro de 1980 a dezembro de 1989.
Assine as notícias da Guatá e receba atualizações diárias.