Colonos tomaram cidades, destruíram sedes das companhias, expulsaram jagunços – Acervo Histórico
Neste dia 10 de outubro, celebra-se os 66 anos da vitoriosa Revolta dos Colonos, ocorrida em 1957 na região sudoeste do Paraná. A luta camponesa garantiu o direito à terra, sendo uma das principais vitórias políticas contra o latifúndio já identificadas no Brasil.
O latifúndio, aqui representado pelas companhias de terras, contando com apoio do então governador Moisés Lupion, almejava expulsar os camponeses, tomar posse, explorar a maior reserva de araucárias do país e acumular lucros.
Por outro lado, as famílias camponesas defendiam a terra como seu espaço de vida, local para produzir alimentos, cultivar laços familiares e comunitários. São duas concepções diferentes, a primeira com visão puramente econômica, depredatória e exploratória; já a segunda numa perspectiva de pertencimento com o local e de relação social.
O conflito não foi pacífico. Infelizmente, dezenas de camponeses/as foram mortos por jagunços pagos por latifundiários, mortes essas não registradas nos cartórios por determinação do governo estadual. Entretanto, o sangue derramado por esses inocentes, canalizou a revolta, colocando em marcha milhares de camponeses armados, que tomaram as ruas das cidades, ocuparam praças, escritórios das colonizadoras e decretaram a vitória deste povo oprimido.
Graças a essa resistência, a região sudoeste se destacou como referência de organização e luta da classe trabalhadora. Na década de 1980, motivados pela vitória de 1957, agricultores organizados por meio de sindicatos combativos, com apoio da Assesoar e da Comissão Pastoral da Terra, consolidaram a região no processo organizativo e de luta contra o latifúndio.
Por meio de um amplo trabalho de base identificou-se que 40% das famílias camponesas eram sem-terra ou com terra insuficiente para viver. Fruto desse diagnóstico, organizaram-se ocupações em fazendas da região, originando, posteriormente, na criação do Movimento dos Agricultores Sem Terra do Sudoeste (Mastes), que mais tarde, em conjunto com outros movimentos, deu-se origem ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Essas ações revelam a capacidade organizativa do povo trabalhador, que foi determinante para garantir a predominância das pequenas propriedades na região sudoeste do Paraná e frear o latifúndio.
Atualmente, com o avanço do capitalismo no campo, o latifúndio passou a ser chamado de agronegócio e tem avançado ferozmente sobre as pequenas propriedades. A produção de monoculturas em alta escala, tem pressionado os agricultores familiares a arrendarem suas terras ou até mesmo venderem, provocando um esvaziamento nas comunidades rurais e ampliando a concentração de terras.
Se por um lado há essa ofensiva, por outro há um acumulo organizativo na região, oriundo desse processo de luta e resistência desde a Revolta. A região é um berço da criação de inúmeras organizações e movimentos que pressionam constantemente o Estado para criação de políticas públicas estruturantes, que viabilizem a permanência das famílias no campo, com incentivos à produção de alimentos saudáveis, geração de renda e preservação do meio ambiente.
A Revolta dos Colonos deixou seu legado de luta e resistência dos/as camponeses/as. Precisamos celebrar essa data e continuar bebendo dessa marcante vitória da classe trabalhadora para alavancar as atuais e futuras lutas.
Sugestões para leitura:
As disputas pela terra no sudoeste do Paraná: os conflitos fundiários dos anos 50 e 80 do século XX. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/campoterritorio/article/view/11785/8291
Da posse para a propriedade da terra no sudoeste do Paraná (1962 – 1973). Disponível em: http://www.poshistoria.ufpr.br/documentos/2009/JaciPoli.pdf
A Revolta dos Colonos de 1957, interpretações, apropriações e memórias. Disponível em: https://tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/2510/1/461395.pdf
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