O Coletivo de Pedagogas(as) da APP-Sindicato/Foz avaliou as atividades de “educação não presencial” (EaD) impostas pelo Governo Ratinho Junior e considerou que o modelo não garante qualidade de ensino aos(às) estudantes, além de provocar a exclusão de grande parcela de alunos(as).
As(os) pedagogas(os) consideram que a EaD de Ratinho Junior e Renato Feder gerou aflição, preocupação e dúvidas entre pais, mães, alunos e educadores(as), em um período em que o foco da ação governamental deveria ser a proteção da vida, devido à pandemia de covid-19.
O documento alerta que a proposta imposta sem que a comunidade escolar tenha sido consultada não é educação a distância, já que essa modalidade conta com uma regulamentação específica no país, e regras de funcionamento.
“O que a SEED está fazendo é impor a todo custo aos(às) educadores(as), estudantes e seus familiares, um monte de parafernália tecnológica, sem o mínimo de planejamento e organização, sem conhecimento da realidade educacional e social das famílias paranaenses e sem respeito pela própria faixa etária das crianças”, aponta o manifesto.
O Coletivo de Pedagogas(os) enfatiza os efeitos perversos da EaD improvisada, particularmente para os(as) alunos(as) do 6º ano, que ainda se encontram em uma fase de transição e adaptação, já que acabaram de deixar a rede municipal. A nota denuncia gastos sem licitação feitos pelo Governo do Paraná e reafirma o pedido de suspensão imediata do colendário escolar enquanto durar a pandemia.
MANIFESTO DE PEDAGOGAS DA REDE ESTADUAL PELO DIREITO À EDUCAÇÃO DE QUALIDADE CONTRA O IMPROVISO DE “EaD”
Enquanto pedagogas temos acompanhado as aflições e preocupações das mães e responsáveis por crianças e adolescentes matriculados nos Colégios Estaduais, também as preocupações de professores/as da rede, desde que a Secretaria de Educação do Paraná, começou a despejar toda ordem de informação, responsabilização e cobranças referente a educação escolar “não presencial”, apresentando uma quantidade de parafernália tecnológica, chamada por muitos de “educação a distância”.
ALERTAMOS os responsáveis que esta organização imposta pelo governo do estado do Paraná, não é educação a distância, pois o modelo de EAD tem uma regulamentação específica no Brasil e toda uma lógica de funcionamento (ainda que possamos ter várias críticas à EAD). O que a SEED está fazendo é impor a todo custo aos educadores, estudantes e seus familiares, um monte de parafernália tecnológica, sem o mínimo de planejamento e organização, sem conhecimento da realidade educacional e social das famílias paranaenses e sem respeito pela própria faixa etária das crianças.
Vemos com muita preocupação este improviso pedagógico: em questão de dias, sem consultar as comunidades escolares (mães, pais, responsáveis, educadores e alunos/as) a SEED começou a divulgar, por meios não oficiais, uma enxurrada de informações, orientações sobre a “educação não presencial”. Passou a informar também endereços e canais de televisão para acesso à videoaulas, aplicativos, tutoriais, vídeos, lives e links, ao mesmo tempo que mandava para os educadores e Diretores das escolas, enviava aos responsáveis. Ficou nítido, pela quantidade de informações desencontradas, pelas orientações dadas e em seguida revogadas, pela falta de regulamentação, pelo alto nível de desorganização, falta de operacionalidade e pelos conteúdos impróprios às faixas etárias, que tudo isso foi colocado em funcionamento com um alto nível de improviso. Além das questões citadas, nossa preocupação é ainda maior com os que estão iniciando os estudos em nossas escolas, crianças que estão nos 6.e e 7.º anos, com idade entre 10, 11 e 12 anos.
CRINÇAS DO 6.ºANO ESTÃO EM FASE DE ADAPTAÇÃO NA REDE ESTADUAL
A passagem das crianças do 5º ano (rede municipal) para o 6º ano (rede estadual) é um período de grandes mudanças, esta é a fase em que mudam de escola, mudam de amigos, muda a professora (deixam de ser 3 professoras passam a ter, no mínimo, 9) muda e aumenta o número de matérias, muda a duração das aulas, muda a organização do horário, etc. Destas crianças é “exigido” novas responsabilidades, novos hábitos e atitudes.
O nosso papel de EDUCADORES/AS neste momento é essencial: somos aqueles/as, que na escola, conduziremos as crianças nesta travessia: com segurança, com disciplina, com afeto e com respeito à sua condição de aprendiz.
Por ser uma fase de transição, precisamos desenvolver metodologias, e encaminhamentos pedagógicos para fazer esse processo ser tranquilo, ser agradável, e não trazer grandes danos ao processo de aprendizagem das crianças. O nosso papel de EDUCADORES/AS neste momento é essencial: somos aqueles/as, que na escola, conduziremos as crianças nesta travessia: com segurança, com disciplina, com afeto e com respeito à sua condição de aprendiz. Contribuindo para desenvolver sua autonomia, contribuindo para fortalecer sua autoestima, contribuindo para acalmar suas inquietações e apoiar nos momentos de fragilidades. Enquanto professores, não somos um recurso tecnológico que despeja conteúdos e programas. A relação (ensino-aprendizagem) passa por mediações que são inteiramente humanas.
Todos os anos é nosso dever de ofício planejar e organizar coletivamente e antecipadamente a escola, o ambiente, as normas de funcionamento, para o início do ano letivo, e assim, receber as crianças que nos chegam, com todas as suas expectativas, inseguranças, como suas curiosidades, com suas peraltices, com suas carências materiais e emocionais, nesta nova fase de escolarização. Isso nós, enquanto educadores, enquanto coletivo escolar, fazemos com tempo, com troca de experiência, com formação continuada, com preparo e organização. Pois, para nós, a educação não é IMPROVISO e não deve se utilizar de um mesmo recurso tecnológico para atingir aqueles que tem níveis, ritmos, e maturidade físico-motora diferentes. Muito nos inquieta, que tudo o que é mais básico e elementar no processo educacional tem sido ignorado pela SEED nessa corrida para impor aulas não presenciais. Imaginamos as aflições dos pequenos e de seus familiares, considerando toda a já fragilidade emocional já ocasionada pela pandemia de COVID-19.
Muito nos inquieta, que tudo o que é mais básico e elementar no processo educacional tem sido ignorado pela SEED nessa corrida para impor aulas não presenciais.
Colocamos esses elementos para dizer que a forma que a SEED tem tentado implementar esse arremedo de educação a distância, na rede estadual do Paraná, é uma medida completamente antipedagógica, que contraria grande parte das teorias e modelos pedagógicos mundialmente conhecidos e estudados até então. Ainda com muitos questionamentos, assistimos as lives do milionário e empresário do setor de tecnologias educacionais: Renato Feder, que hoje é Secretário da Educação do Paraná, que com sua equipe fizeram negócios altamente lucrativos, gastando verba pública em todo tipo de aparato tecnológico. Sem licitação foi comprando aplicativos, pacote de dados, pacotes de aulas produzidas com baixa qualidade pedagógica, parcerias com google classroom, contratos milionários com rede de televisão, contratos com operadoras para disponibilizar internet, produtoras para a produção de aulas empacotadas, etc.
Sem licitação foi comprando aplicativos, pacote de dados, pacotes de aulas produzidas com baixa qualidade pedagógica, parcerias com google classroom, contratos milionários com rede de televisão, contratos com operadoras para disponibilizar internet, produtoras para a produção de aulas empacotadas, etc.
Na medida em que foram comprando foram jogando para as famílias, sem ao menos testar a operacionalidade, sem planejar e pensar o processo educativo, sem levar em conta a condição socioeconômica de grande parte das famílias, sem levar em conta os estudantes com necessidades especiais e sem levar em conta as múltiplas modalidades que a escola contempla (ensino fundamental, ensino médio, educação indígena, educação quilombola, educação do campo, educação profissional e educação de jovens e adultos).
Enquanto educadoras não somos contrárias que a SEED ofereça, mediante uso de tecnologias, atividades extracurriculares, atividades lúdicas, atividades pedagogicamente viáveis nesse período de pandemia (sem serem obrigatórias, sim complementares). Que as atividades educativas pensadas sirvam, entre outras coisas, para fortalecer o senso coletivo de cooperação e prevenção ao COVID-19, meios que estimulem o vínculo dos educadores com os estudantes e seus familiares, tudo isso orientado ao fim maior neste momento, que deve ser o cuidado e a prevenção.
Que a SEED não torne o isolamento social uma carga pesada para as famílias que hoje já estão sob o drama de pensar a alimentação e os cuidados básicos de higiene, de cuidados com a saúde.
Que a SEED não torne o isolamento social uma carga pesada para as famílias que hoje já estão sob o drama de pensar a alimentação e os cuidados básicos de higiene, de cuidados com a saúde. Após passarmos por esse período de isolamento – e desejamos passar com redução de danos emocionais, sem perdemos nossos familiares, colegas de trabalhos, alunos – defendemos que a SEED estabeleça um processo de diálogo com as famílias, e com o sindicato que representa os educadores/as para coletivamente traçar as formas de cumprir e finalizar o ano letivo, pois assim deve ser uma gestão democrática, conforme preconiza a Constituição e a LDB.
Que o período de isolamento nos proporcione a reflexão coletiva sobre a função social da educação: “seria a educação um conjunto de conteúdos que devem ser despejados/repassados, independente da realidade social estabelecida, ou seria a educação uma prática social humanizadora?” Mediante tudo que isso, reafirmamos nosso compromisso com a educação pública de qualidade; compromisso com os serviços públicos e o zelo pela escola pública, que é um bem de toda a população; reafirmamos também nossa defesa do direito à educação de qualidade para todos (ninguém pode ser deixado para trás).
– SUSPENSÃO IMEDIATA DO IMPROVISO DE “EDUCAÇÃO” NÃO PREESENCIAL;
– SUSPENSÃO DO CALENDÁRIO ESCOLAR – SEM DEMISSÕES DOS(AS) TRABALHADORES(AS) DA EDUCAÇÃO, SEM TERCEIRIZAÇÕES, SEM RUPTURA DE CONTRATOS E COM SUMPRIMENTO AOS EDUCADORES TEMPORÁRIOS;
– DIÁLOGO COM OS SEGMENTOS ENVOLVIDOS NO PROCESSO EDUCATIVO;
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