Alimentação das crianças brasileiras está distante das recomendações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde – Foto: CEE Fiocruz
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Dados inéditos do Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani-2019), conduzido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mostram que, em 2019, oito em cada dez crianças brasileiras de até cinco anos já consumiam alimentos ultraprocessados, como biscoitos, farinhas instantâneas, refrigerantes e bebidas açucaradas, dentre outros produtos nocivos à saúde.
A prática é comum inclusive entre bebês menores de dois anos, o que pode trazer consequências ao longo de toda a vida, como obesidade, diabetes e problemas cardiovasculares.
“Os resultados do Enani-2019 mostram que, em geral, a alimentação das crianças brasileiras está distante das recomendações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS)”, afirma o professor Gilberto Kac, coordenador nacional do Enani-2019 e pesquisador do Instituto de Nutrição Josué de Castro da UFRJ.
“As prevalências dos indicadores estudados – consumo de ultraprocessados, frutas e hortaliças e de água pura – variam entre as macrorregiões, de acordo com o Indicador Econômico Nacional (IEN), denunciando as grandes desigualdades sociais do Brasil. Esperamos que os novos resultados possam ajudar a planejar estratégias de promoção da alimentação saudável, bem como o monitoramento da evolução desses indicadores ao longo do tempo”, explica o acadêmico.
O já habitual consumo de ultraprocessados é agravado pela baixa ingestão de frutas e hortaliças, que deveriam compor a base da alimentação infantil. “No dia anterior à realização da entrevista com as famílias, 22,2% dos bebês de seis meses a dois anos e 27,4% das crianças de dois a cinco anos não haviam consumido nem frutas nem hortaliças.
A situação é mais preocupante na região Norte, onde, na véspera da entrevista, um terço (29,4%) dos bebês de até dois anos não havia comido nem frutas nem hortaliças, e a maioria deles (84,5%) tinha consumido ultraprocessados”, alerta Kac.
Gilberto Kac é professor da UFRJ e coordenador do estudo / Reprodução
. O pesquisador destaca a alta predominância do consumo de temperos industrializados, como caldos em cubo e molhos prontos. “Um quinto (20,9%) das crianças brasileiras de até cinco anos consome esses produtos em seu dia a dia, o que é preocupante, porque são itens ricos em sódio, conservantes e outras substâncias perigosas.
Os maiores índices estão nas regiões Nordeste (31,1%) e Sudeste (27,2%) e os menores, nas regiões Centro-Oeste (19,7%) e Norte (20,6%). O ideal é preferir temperos naturais, frescos ou secos, como salsinha, coentro, manjericão, orégano, tomilho, dentre tantos outros”, orienta Kac.
O consumo de água pura, indicado a partir dos seis meses, no início da introdução alimentar, também chamou a atenção dos pesquisadores do Enani-2019. O estudo aponta que o consumo de água pura entre crianças de até cinco anos no dia anterior ao do estudo foi de 72,1% no país.
“Isso significa que um quarto (27,9%) das crianças brasileiras nessa faixa etária não consumiu água pura no dia anterior à entrevista”, aponta Kac. As menores prevalências estão nas regiões Sul (47,4%) e Norte (49,1%) e as maiores, nas regiões Sudeste (80,4%), Nordeste (79,8%) e Centro-Oeste (77,1%).
Fonte/ UFRJ
O Enani-2019 é a primeira pesquisa com representatividade nacional a avaliar, simultaneamente, em crianças de até cinco anos, práticas de aleitamento materno, alimentação complementar e consumo alimentar individual, estado nutricional antropométrico e deficiências de micronutrientes, incluindo as deficiências de ferro e vitamina A.
Foram realizadas visitas domiciliares em 123 municípios brasileiros entre fevereiro de 2019 e março de 2020, totalizando 14.558 crianças de até cinco anos. O Enani-2019 foi encomendado pelo Ministério da Saúde e coordenado pela UFRJ, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e Universidade Federal Fluminense (UFF).
A pesquisa teve financiamento da Coordenação Geral de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
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