Pesquisadores avaliam que há grandes chances de existirem novos sítios arqueológicos na região – Edithe Pereira
Estudos realizados nos arredores do Parque Estadual Monte Alegre (Pema), no oeste do Pará, identificaram 14 novos sítios arqueológicos em áreas particulares. O parque abriga o sítio arqueológico mais antigo da Amazônia sul-americana, com pinturas rupestres de aproximadamente 12 mil anos.
Pinturas em paredes e tetos de abrigos na região chamada Cauçu sugerem que ali houve a presença de sociedades diferentes daquelas já registradas no Pema. Além disso, os levantamentos indicam que há potencial para outras novas descobertas no município amazônico.
A pesquisadora do Museu Paraense Emílio Goeldi, Edithe Pereira, afirma que há diferenças significativas entre os achados de dentro e de fora do parque. “As pinturas que [nos novos sítios] são muito diferentes das pinturas que estão na unidade de conservação, em um espaço geográfico relativamente pequeno, que talvez não chegue a 60 quilômetros entre uma área e outra em linha reta”, explica ela, que atua na área de Monte Alegre desde 1989, antes de a região virar parque estadual. Desde 2022 Pereira coordena também pesquisas fora da unidade de conservação.
A arqueóloga Edithe Pereira é pesquisadora voluntária do Museu Paraense Emílio Goeldi / Myrtle Shock
Estão sendo realizados estudos para levantamento de dados sobre os povos responsáveis pelas pinturas rupestres. O próximo passo da equipe, em maio, é fazer escavações em áreas próximas à região.
Os pesquisadores afirmam que as pinturas não estão no provável local de moradia desses povos. “Esses abrigos, eles iam para pintar, para produzir tinturas, eles não moravam ali. Não há condições de moradia, os abrigos são muito pequenos”.
Os estudos apontam ainda para a importância de preservação da região, ameaçada pelo avanço de processos de exploração dos recursos naturais, como as queimadas para a implantação de pastos.
“Uma parte dessa área é um grande pedral, que é onde estão as pinturas, mas tem a área de mata, onde as pessoas queimam para fazer pasto e o seus cultivos e, com isso, acabam destruindo os sítios”, explica Pereira.
Ainda nas fases iniciais, pesquisas avançam com financiamento privado e apoio do CNPq. / Edithe Pereira
Após a descoberta, a artista plástica e empresária Marcela Soares adquiriu dois dos lotes com sítios arqueológicos e realizou um financiamento para a continuidade das pesquisas. Pereira afirma que esse pode ser um feito inédito na Amazônia, e talvez no Brasil.
“Isso sim é uma coisa inusitada, é inusitada na Amazônia e acredito que no Brasil. Uma pessoa que resolveu investir com recursos próprios na pesquisa. Mais do que isso, quando ela conheceu o lugar e viu as ameaças que colocavam em risco os sítios, comprou dois lotes de terreno com a ideia de preservar. Com os recursos que forneceu para a gente, estamos fazendo a pesquisas”, comemora a pesquisadora.
A artista plástica Marcela Moraes morou em Altamira (PA), onde se aproximou de causas em defesa da Amazônia / Arquivo Pessoal
Marcela Soares alimentava, desde criança, o sonho de ser arqueóloga. Envolvida com as causas amazônicas, especialmente nas temáticas indígenas, ela explica que se envolveu com a questão de Belo Monte, onde passou longas temporadas.
“Nessa ocasião, vim a saber que além do patrimônio humano e ecológico, um enorme e importantíssimo acervo arqueológico estava indo embora com o alagamento. Depois, em 2018, assisti ao incêndio do Museu Nacional, pois moro no Rio e era aluna ouvinte do Museu, e fiquei arrasada com a perda de patrimônio. Naquele momento prometi a mim mesma que faria algo pelo patrimônio arqueológico brasileiro”, explica Soares.
Desde então, Marcela Soares seguiu pelos caminhos da preservação ambiental e valorização dos saberes e culturas amazônidas, até conhecer as pesquisas de Edithe Pereira.
Pinturas encontradas em novos sítios são muito diferentes das pinturas já catalogadas na unidade de conservação. / Edithe Pereira
“Eu fui arrebatada pela pesquisa da Edithe e sua equipe e decidi apoiá-los. Esse apoio veio de um desejo de fazer algo pela pesquisa, pelo meio ambiente e pelo patrimônio do Brasil, que estava em estado lamentável com o governo Bolsonaro, então começamos a desenhar o projeto em 2021”.
As pesquisas seguem também com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). “O que a gente espera é salvar pelo menos os sítios que estão dentro do terreno dela, que eles sejam preservados. E a longo prazo, a gente pretende fazer um trabalho mais próximo, com a comunidade daquela área, para tentar mostrar que é importante preservar, que é possível sem ter prejuízos”, finaliza Pereira.
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