Foto: Reprodução/Portal de Livros Abertos da USP
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O povo Kaingang, que tem terras distribuídas na região Sul do Brasil e também no Estado de São Paulo, é reconhecido principalmente por sua íntima relação com a natureza. Esse foi um dos aspectos que chamaram a atenção de Ariadne Dall’Acqua Ayres, enquanto pesquisava para produzir sua dissertação de mestrado. No trabalho, ela analisou como as práticas e valores desse povo indígena na região do Paraná poderiam contribuir para a conservação da biodiversidade.
Ariadne Ayres – Foto: Arquivo pessoal
Atualmente doutoranda em Biologia Comparada na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, Ariadne organizou com sua orientadora, Fernanda da Rocha Brando, a obra Livro de Memórias dos Kaingang do Paraná, que traz histórias e conhecimentos contados pelos próprios indígenas.
A relação com o meio ambiente é evidente nos depoimentos coletados: para aqueles indígenas, se a natureza for destruída, a cultura deles também será. Ariadne exemplifica citando a prática que eles já adotavam, antes do período da colonização, de mudar de lugar periodicamente, para dar tempo ao solo de se regenerar. Mais tarde, isso foi conceituado como restauração ambiental, mostrando como as práticas indígenas são fundamentais para se pensar na preservação ambiental.
O livro será distribuído gratuitamente para as escolas indígenas do Paraná, como uma forma do trabalho contribuir diretamente com a comunidade e não somente com a ciência, em sentido estrito. A publicação também está disponível no Portal de Livros Abertos da USP.
A araucária, também conhecida como pinheiro-do-Paraná, faz parte de uma das histórias que compõem o livro. A narrativa dos Kaingang sobre isso é de que, ao migrarem de território, eles levavam pinhões em seus bolsos, aumentando a biodiversidade da árvore – Fonte: Reprodução/Pixabay
A obra está dividida em três partes principais: a história do povo Kaingang, os seus conhecimentos tradicionais e uma mensagem dos narradores para o seu próprio povo e para os não indígenas sobre o cenário atual da comunidade. O livro apresenta também um pouco sobre cada um dos indígenas que contribuíram para a construção dele.
Para os Kaingang, ter contato com essa obra pode ajudá-los não só a ter a cultura preservada, como também a valorizarem a própria identidade, o que é difícil devido aos preconceitos que sofrem: “Distribuir gratuitamente o livro, principalmente dentro de escolas indígenas, é uma forma deles se reconhecerem, admirarem o conhecimento que dispõem e entenderem o quanto têm para contribuir”.
Para além dos impactos na comunidade, a doutoranda acredita que, ao trazer os indígenas como narradores, o livro pode incentivar outros pesquisadores da área a apoiarem esse protagonismo. Além de dar visibilidade para o povo Kaingang, que são considerados uma minoria pelo restante da sociedade, mas que cuidam da natureza para uma maioria. “Se a gente for onde a natureza é mais preservada, é justamente onde tem populações indígenas”, finaliza Ariadne.
Mais informações: e-mail ariadne.ayres@usp.br, com Ariadne Dall’Acqua Ayres
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