A pandemia de Covid-19 tem mobilizado pesquisadores e profissionais das mais diferentes áreas, que, por meio da organização de redes de trabalho, estão se unindo na busca de soluções para o enfrentamento à doença. Com a perspectiva da falta de equipamentos para atendimento de todos os pacientes, também entra em campo a criatividade para transformar e melhorar o que já está disponível, em tempo hábil e com tecnologia acessível que possibilite replicar projetos em qualquer parte e em escala industrial.
Nessa linha, os professores Oswaldo Barbosa Loureda (Física), Oswaldo Hideo Ando Júnior (Engenharia de Energia) e Luiz Fachine (Medicina) estão desenvolvendo projetos para tentar garantir que não faltem respiradores aos pacientes que, eventualmente, cheguem às UTIs dos hospitais.
Os docentes participam de grupos com pessoas de diversas instituições, empresas e universidades brasileiras. “Este é o maior esforço de engenharia conjunto para contribuir para o enfrentamento à Covid-19”, comenta o professor Oswaldo Barbosa Loureda, explicando que os grupos reúnem, além de engenheiros, médicos, makers, enfermeiros, desenvolvedores de tecnologia, todos com grande conhecimento em suas áreas. Entre os grupos de trabalho dos quais os docentes participam está o grupo ligado ao Sistema Regional de Informação (SRI), uma rede que busca soluções para a Covid-19 na região Oeste do Paraná, em várias frentes de trabalho.
Nos grupos, os pesquisadores compartilham não só os dados, desenhos de equipamentos e informações que possuem, mas também a vontade de vencer a doença em um cenário de dificuldades. Neste momento, a colaboração fala mais alto.
Um dos projetos assumidos pelos três docentes da UNILA – que contam também com o auxílio de estudantes – é o que busca automatizar um ambu, que é um respirador manual composto por um balão de silicone, válvulas, máscara facial e reservatório. A automatização vai dispensar a presença de uma pessoa para “bombear” o equipamento. “São coisas muito elaboradas, porém de simples execução, com componentes que se encontram no mercado. É tudo uma questão de expertise: juntar uma porção de elementos e fazer eles trabalharem em conjunto”, comenta Luiz Fachine.
Essa transformação é, na opinião dos pesquisadores, uma maneira mais rápida de atender a uma situação de emergência, como a da pandemia. “O respirador é mais simples, mas atende às necessidades dos hospitais”, explica Loureda. Segundo ele, uma empresa da região já demonstrou interesse na produção do equipamento.
O desenvolvimento desse tipo de projeto e a sua disseminação em grupos de pesquisa, mesmo que informais, garantem que os resultados possam ser aplicados em qualquer lugar do mundo, não se restringindo a soluções locais. “As grandes empresas têm contribuído, fabricando coisas que nunca pensaram, mas para isso alguém tem de dar a receita do bolo, dar todos os caminhos”, diz Fachine.
Outro projeto é o desenvolvimento de adaptadores para uma eventual necessidade de respiradores serem divididos por dois ou mais pacientes. Os respiradores são usados individualmente, ou seja, um para cada paciente. Numa situação de emergência extrema, como aconteceu na Itália, um respirador chegou a ser usado por até quatro pacientes, como relata o médico e bioengenheiro Luiz Fachine. “Tomara que não aconteça aqui, porque em grandes cidades, no mundo inteiro, está sendo um grande problema”, comenta.
A adaptação para o respirador não tem nada de simples. “Precisa de um adaptador que tenha uma válvula para que o CO2 seja expelido pelos dois [pacientes], senão o CO2 vai de um para o outro. É uma adaptação elaborada”, comenta Fachine.
As primeiras peças para esse adaptador foram desenhadas por Loureda e produzidas na impressora 3D que ele possui. Este projeto está em ritmo mais lento – porque a expectativa é não precisar fazer o compartilhamento de respiradores.
Assine as notícias da Guatá e receba atualizações diárias.