Bem Viver traz uma conversa com o poeta e agitador cultural, Sérgio Vaz – Lucas Webber
O Brasil tinha, em 2019, 100 milhões de leitores, ou 52% da população, de acordo com a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil desenvolvida pelo Instituto Pró-Livro, Itaú Cultural e IBOPE Inteligência. São considerados leitores aqueles que tinham lido pelo menos um livro, mesmo em parte, nos últimos três meses. São 4,6 milhões e menos de leitores do que o registrado na pesquisa anterior, de 2015.
Enquanto a política pública não chega, nas quebradas da capital paulista, o agitador cultural, Sérgio Vaz, busca despertar corações e mentes por meio da palavra e das ações. 29 de outubro, é o Dia Nacional do Livro, e o Bem Viver, programa do Brasil de Fato, traz uma entrevista especial com o escritor que defende que “sagrado não é quem escreve, mas quem lê”.
“Eu fui na Fundação Casa, no primeiro dia eu perguntei quem gostava de poesia e ninguém respondeu. Eu comecei a recitar Negro Drama do Racionais MCs. Aí o cara disse ‘se isso é poesia, nós gostamos’. Então eu descobri que todo mundo gosta de poesia, só não sabe que gosta. A minha função é mostrar as pessoas que elas gostam. De uma forma cada vez mais simples eu tento atingir isso”, conta Vaz.
Um dos fundadores da Cooperifa, grupo que fomenta literatura e cultura nas periferias de São Paulo há mais de 20 anos, traz a poesia para o cotidiano e como ferramenta de transformação social e pessoal.
“Poesia é despertar nas pessoas o algo melhor que elas têm. Até a dor. Porque às vezes você tem uma dor que outra pessoa também tem e ela não sabe como definir aquilo, por que precisa trabalhar, pagar o boleto. Então as pessoas quando dizem que gostam do meu trabalho é porque elas sofrem como eu, entende o meu sofrimento, porque eu entendo o sofrimento dessa pessoa. E ela diz ‘ó entendi o que você falou, eu também sofro assim, só que eu não sabia porque. Agora por meio da sua poesia eu sei porque eu não tenho dinheiro para pagar o aluguel. Agora eu sei porque eu sofro racismo’. O professor olhou pra minha poesia e pensou como eu vou explicar assuntos complexos pra essa juventude. Ele pegou e colocou minha poesia. Então poesia para mim é quando as palavras além de belas, são úteis”, explica o escritor.
Em meio a uma realidade que trocou as folhas por telas, inclusive, os livros por digitais, Vaz pontua a importância da tecnologia e das redes para “instrumentalizar ideias” e “dar voz a muita gente boa”, mas também que não dá para fazer “política com hashtag”.
“A minha poesia cresceu por conta da internet. Meu trabalho ganhou projeção por conta da internet. Minhas poesias tão no Instagram, no Youtube. Então não posso dizer que a internet também não é boa. E se você for na livraria tem muita merda lá. Eu vejo a digitalização, talvez, nós adultos, não saibamos usar como ferramenta para instrumentalizar as ideias que devem ser colocadas, que é uma ferramenta é. Deu voz pra idiota. Mas deu voz pra muita gente boa também”.
Ele também comenta sobre a recente eleição de Ailton Krenak a Academia Brasileira de Letras (ABL). “Não tem mais como esconder a gente. é necessário estar ali. A Conceição Evaristo, o Ailton Krenak também, tantas outras vozes literárias. Eles tem que perceber que o povo brasileiro é diverso. que nós precisamos estar em todos os lugares. O Brasil não pode mais fechar, ele tem que abri, olha ai as editoras as livrarias fechando. O momento não é de fechar, é de abrir. E demorou pra fazer essas coisas. E não é nenhum favor. Até porque para se chamar brasileiro tem que ter todos os brasileiros”, afirma.
Quando e onde assistir o programa Bem Viver:
No YouTube do Brasil de Fato, todo sábado, às 13h30, tem programa inédito. Basta clicar aqui.
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