Sepé Tiaraju: Esta terra tem dono” – Imagem: reprodução
Reunidos nas terras que a Espanha reivindicava como a sua expansão nas Américas, milhares de índios habitavam as aldeias formadas por padres jesuítas da Companhia de Jesus, que pretendiam “reconduzir os aborígenes as fé cristã e a vivências em sociedade”, inspirada nos valores do homem branco. As reduções formaram trinta e três cidades missioneiras, cada uma com uma população entre sete e dez mil habitantes, divididas nos territórios do Brasil, Argentina e Paraguai, ao que se chamou de “República dos Guaranis”.
Diferentes pesquisadores compartilham a opinião de que os índios missioneiros viviam num regime cooperativo, cultivavam a terra plantando de erva-mate, milho, mandioca e algodão, criavam animais, produziam confecções em couro, utilizava-se da arquitetura e da metalurgia, dividindo o tempo de trabalho entre a produção individual e coletiva, o que garantia o sustendo de toda a comunidade. Vigorava entre eles, um sistema de troca de objetos e serviços, não havendo moeda. Já à época, desenvolveram um sistema de assistência designado “cotiguaçu”, que sustentava mulheres e crianças órfãs.
Em que pese todo o processo de ocidentalização da população indígena e a consequente conquista dos territórios sul-americanos aos europeu, os Povos da Missões alcançaram elevada organização do processo do trabalho, na educação, nas artes e na cultura.
“Esta terra tem dono”
Ilustração da cartilha publicada sobre Sepé Tiaraju.
Nascido José Tiarajú, provavelmente em 1723, na redução de São Luiz Gonzaga, tornou-se Sepé Tiarajú. Era índio guarani, um dos primeiros povos a habitar o Rio Grande do Sul, muito tempo antes de chegarem os primeiros europeus.
Órfão ainda criança, foi atingido pela peste escarlatina, a mesma doenças que vitimou sues pais. Em decorrência da doença, Sepé obteve uma cicatriz na testa e um leve afundamento craniano em que, conforme sua posição, os raios solares promoviam certa luminosidade. Por esse fato, tornou-se Tiarajú, ou , “facho de luz”.
Sepé Tiarajú era um grande guerreiro, forte e rápido, sempre destacando-se nos jogos indígenas. Foi escolhido Corregedor da Redução de São Miguel, em 1750, data da assinatura do Tratado de Madri. Ao lado do Corregedor da Redução de Santa Maria, Nicolau Ñenguiru, Sepé comandou a luta contra a expulsão e o saque de seu povo, durante a Guerra Guaranítica.
Poucos sobreviventes juravam te-lo visto entre a nuvem de pólvora, montado em seu cavalo, com uma lança de fogo nas mãos. Como personagem individual desta epopéica resistência, Sepé Tiarajú é o substrato da luta histórica contra a opressão e por um projeto de sociedade igualitária. A cada momento da história, o legado de Sepé e de seu povo renasce como advertência a intolerância e a injustiça.
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