A “Casa Laly Schinke” está sendo permutada por áreas públicas; projeto foi aprovado por unanimidade na Câmara de Vereadores – foto: Marcos Labanca/Arquivo H2FOZ
De H2Foz / Por Paulo Bogler Um dos ícones da história da cidade e contemporâneo dos primeiros anos da constituição do município de Foz do Iguaçu, o pioneiro Harry Schinke (1902–1976) poderá finalmente ter sua contribuição preservada e valorizada pelo poder público. Hoje, a família é a guardadora de suas memórias, o que inclui objetos e materiais que têm 80 anos, além coleção fotográfica, sem exitir um equipamento público para reunir o acervo.
A prefeitura encaminhou para a Câmara Municipal projeto que permuta por áreas públicas um dos imóveis de familiares, o prédio de feição colonial que fora construído na virada dos anos 1930–1940, na Rua Tiradentes, a poucos metros da Avenida JK. Esse procedimento está previsto na legislação, sendo a matéria aprovada pelos vereadores por unanimidade, em sessão extraordinária nessa quarta-feira, 10, já em duas votações.
O caminho ao museu ainda é longo. O imóvel deverá ser tombado pela lei municipal do patrimônio cultural – pedido tramita desde 2019 –, além de carecer de adequação na estrutura para abrigar o equipamento de memória. A reportagem apurou com familiares que eles pretendem repassar ao projeto o acervo de que dispõem, relacionado à vida e às atividades de Harry Schinke, que chegou a Foz do Iguaçu na década de 1920, vindo da Alemanha.
Conforme a gestão municipal, neste primeiro momento, a iniciativa envolve somente o prédio que foi da neta do pioneiro. O imóvel fica ao lado da área na qual viveu Harry Schinke, onde foi o primeiro laboratório de Foz do Iguaçu, a antiga Casa de Profilaxia, e também onde faleceu Moisés Bertoni, o cientista suíço que viveu na fronteira. Esse segundo bem segue sendo de propriedade da família.
“Inicialmente, a administração fará a desapropriação da Casa Laly Schinke, contemplando a estrutura localizada na frente do terreno, na Rua Tiradentes”, informou a prefeitura ao portal H2FOZ. “Mas a proposta prevê o inventariado de todo o espaço, conforme houver disponibilidade financeira ou nova permuta através de conversão de área.”
A assessoria da prefeitura reportou ainda que, conforme a Secretaria de Planejamento e Captação de Recursos, a área da antiga Casa da Profilaxia foi avaliada em R$ 4 milhões. O prazo para a aquisição desse patrimônio, considerado uma das primeiras edificações de Foz do Iguaçu, não foi mencionado pela gestao do município.
Enquanto a casa de memória não é efetivada, a área e os imóveis relacionados à vida e à obra de Harry Schinke refletem a falta de compromisso e o descaso do poder público municipal com o patrimônio cultural de Foz do Iguaçu. Recai à família arcar com a manutenção das edificações e bens, bem como preservar objetos e outros materiais de valor histórico para a cidade.
O esforço da família de Harry Schinke para preservar a memória, articular presente e passado da cidade e transmitir para as novas gerações o legado do pioneiro inclui levar o memorialismo às redes sociais. São compartilhados conteúdos com lembranças, fatos marcantes, personagens de décadas passadas e outras memórias (acesse aqui).
Harry Schinke foi pioneiro em profilaxia, mantendo atividades terapêuticas contra doenças na comunidade, e também da fotografia. São seus inúmeros registros que retratam a aventura da marcha humana nesta geografia fronteiriça e dos seus antigos moradores. Foi o proprietário de um dos primeiros automóveis a circular nas rústicas vias da cidade, que teria sido obtido como presente por curar um paciente.
A pioneira Marieta Schinke, que faleceu em Foz do Iguaçu em 1984, contou em entrevista ao jornal Nosso Tempo, reproduzida no livro Foz do Iguaçu: Retratos, que o esposo veio trabalhar como profilático a pedido do médico Amilcar Pellón. E também foi artista. “Junto com o prefeito Jorge Schimmelpfeng formou um grupo de teatro”, revelou.
Sobre as fotos da cidade daquele momento histórico, dona Marieta elencou entre as mais representativas as que registraram o incêndio de uma igreja e os primeiros voos de aviões. “Porque antes só turistas tiravam fotografias, mas só das Cataratas e dos rios, ao passo que Harry foi o primeiro a registrar os aspectos da cidade e do povo”, resgatou.
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