a tristeza é um animal de asas quebradas
viajante do tempo operário de passagens
fazendo um rastro úmido no céu da boca
desde o lábio superior ao fim da garganta
não se sabe onde e quando feriu as asas
dizem que daqui a uns séculos a tristeza
não virá mais da inutilidade de suas asas
como evoluiu nosso primeiro protozoário
mas de nascer já dentro do céu da boca
para se habituar duma vez ao organismo
eternamente hospedeiro que é o homem
a tristeza já não terá asa para abandonar
não terá esse processo evolutivo natural
do primeiro tombo ao peito em pedaços
ela virá sem ossos sem coluna vertebral
mas só amorfa virulenta invisível a olho
nu a tristeza não será só mais um bicho
a tristeza: essa legião de almas partidas
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