Viveiros-estufas foram projetados respeitando aspectos da cultura Guarani, como a orientação solar de acordo com as divindades – Foto: Divulgação/IECAM
Estão sendo inaugurados dois viveiros-estufas para multiplicação de mudas de espécies nativas do Rio Grande do Sul nas aldeias Guarani Teko´a Anhetengua (Aldeia Verdadeira/da Verdade), em Porto Alegre, e Teko´a Yriapu (Aldeia Som do Mar), em Palmares do Sul (RS).
A proposta pioneira do viveirismo é semear, replicar e multiplicar as espécies, introduzir ou reintroduzir nas áreas indígenas e encaminhar o excedente a outros territórios / Foto: Divulgação/Iecam
Ela conta que o primeiro passo foi a certificação do viveiro da Teko´a Anhetengua como “viveiro artesanal” junto à Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) do Rio Grande do Sul para, posteriormente, poder comercializar as espécies excedentes. O Iecam apresentou a proposta de viveirismo nas aldeias Guarani entre 2004 e 2006, quando percebeu que diversas espécies nativas importantes para a cultura Guarani já não eram mais encontradas nas aldeias ou em suas proximidades.
Assim, em 2007, após a elaboração conjunta do projeto e da definição e benção do local, foi construído o primeiro viveiro-estufa indígena, Poarendã ou Yvyrendã (casa dos remédios ou das plantas), na Teko’a Anhetengua. Desde então, os Guarani, com apoio técnico e metodologias interculturais, estão se apropriando das práticas de viveirismo, fortalecendo a cultura e o meio ambiente.
O conhecimento e a prática que envolve a semeadura e o cultivo das espécies nos viveiros são repassados para os Guarani pelos técnicos não-indígenas e pelos próprios viveiristas (cuidadores) guarani. Também são realizadas oficinas abordando temas como identificação e uso das espécies, reciclagem de resíduos sólidos e compostagem.
Os viveiros-estufas foram projetados respeitando aspectos da cultura Guarani, como a orientação solar de acordo com as divindades, a criação de um espaço interno para realização de reuniões e oficinas e o uso de materiais como taquara e capim santa fé, comuns em habitações tradicionais indígenas e nas casas de reza.
Os viveiros-estufa foram construídos com o objetivo de preservar e multiplicar espécies nativas, promovendo sua reintrodução nas áreas indígenas / Foto: Divulgação/Iecam
Para integrar os conhecimentos e as tradições Guarani com padrões de construção sustentável, houve a implementação de sistemas de captação de água da chuva buscando a harmonia entre a tradição e a inovação. A reinauguração dos viveiros marca um novo capítulo na preservação ambiental e na valorização da riqueza cultural Guarani, reafirmando o compromisso do Projeto Ar, Água e Terra com o meio ambiente e com as comunidades indígenas.
O Instituto de Estudos Culturais e Ambientais (Iecam) é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, fundada em 1991, no Rio de Janeiro (RJ), por ambientalistas engajados na organização da Rio/Eco 92. Sediado, desde 2011, em Porto Alegre (RS), a missão do Iecam é a pesquisa e o desenvolvimento de ações socioambientais sustentáveis, através da revitalização de saberes tradicionais e da biodiversidade. No Rio Grande do Sul, tem direcionado suas ações com as aldeias Guarani, com as quais tem criado um espaço de aproximação e de envolvimento desde 1994, desenvolvendo ações, projetos, pesquisas e parcerias, e participando em seminários, conselhos e audiências públicas.
O projeto foi aprovado, em 2010, por meio de seleção pública, e iniciou as atividades no ano de 2012. Com a abordagem etnoambiental como eixo central, contempla uma série de necessidades do povo Guarani, como a segurança alimentar e a restauração florestal com espécies nativas de uso tradicional indígena.
Para a realização das atividades, utiliza uma metodologia de construção participativa, proporcionando a troca intercultural de saberes, práticas, técnicas e ideias, sendo os indígenas protagonistas e coexecutores, apresentando suas demandas e propondo soluções, atividades e métodos. Em janeiro de 2024 foram retomadas as atividades, inaugurando a 4ª fase do projeto em dez aldeias Guarani, localizadas em dez municípios do Rio Grande do Sul.
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