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Quino e suas criações, em ilustração de Osvaldo Révora (Reprodução de Telam)
Joaquín Lavado começou a ser Quino para ter identidade própria. Precisava se diferenciar de seu tio Joaquín, que também era ilustrador e que acabou por ser uma de suas influências fundamentais. Seus próximos passos foram estudar na Escola de Belas Artes de sua província nata e, a partir de 1954, estabelecer-se em Buenos Aires.
Publicou em jornais e revistas da Argentina e de inúmeros países. Mafalda, que também teve sua versão animada, foi traduzida para 26 idiomas. Foi editada em quase toda a América Latina e também na Itália, Espanha, França, Alemanha, Dinamarca, Portugal, Suécia, Finlândia e Grécia. Teve inclusive edições piratas. Uma delas em Taiwan.
Na Argentina, as tiras e vinhetas de Quino apareceram em Vea y Lea, Leoplán, Rico Tipo, TV Guía, Panorama, Atlántida, Primera Plana, El Mundo, Siete Días, Triunfo (España) y Revista Viva, entre tantos outros meios de comunicação.
Além disso, editou duas dezenas de livros que o consagraram como um dos artistas gráficos de língua espanhola mais destacados do século XX. Entre as edições, destacam-se os títulos “Mundo Quino”, “A mi no me grite”, “Bien, gracias, ¿y usted?”, “Quinoterapia”, “Todo Mafalda” y “Simplemente Quino”. [Algumas delas, traduzidas para a língua portuguesa e editadas em Portugal e no Brasil.]*
Também recebeu vários prêmios. Entre os mais importantes estão o Prêmio Príncipe de Astúrias de Comunicação e Humanidades(2014), a Palma de Ouro no Salão Internacional de Humor de Bordighera (1978), o Prêmio Desenhista Internacional do Ano (Canadá, 1982), o prêmio de caricatura La Catrina (Feira Internacional do Livro de Guadalajara, 2003) e o prêmio Konex pela trajetória (2012).
Quino, na foto posando com seus personagens, morreu em 30 de setembro de 2020 (Foto: Alfredo Ponce)
“É a única coisa que sei fazer, a única coisa que me atraiu na vida. Nesta profissão, a gente nunca deixa de trabalhar. Estou sentado em um bar, em um ônibus ou onde quer que seja, e tenho que estar observando as pessoas.” Para Quino sua arte era, antes que nada, um ofício.
Mafalda se tornou seu trabalho mais emblemático. Talvez por isso continue vivo nos personagens da tira. Quando lhe perguntaram com qual deles se parecia, o artista respondeu: “Suponho que devo parecer com todos”.
Quino está presente nos ideais e no discurso de Mafalda; no temperamento de Felipe e Miguelito; em tudo que chateia em Susanita e Manolito. Quino é essa família, aquela comunidade, a quem a vida não se mostrava indiferente. A tal ponto que o dizia em voz alta. E à vista de um mundo que imaginava muito melhor do que era.
Disruptiva, rebelde, sensível. Sonha com um mundo melhor, com justiça social, paz e democracia. Não se cansa de denunciar, geralmente através de perguntas que interpelam o estabelecido e incomodam ao mundo adulto, aquilo que não funciona. É o “deve ser” do autor, tudoi aquilo que Quino desejava para o mundo dos anos 60.
Autêntica, incômoda, Mafalda tinha só quatro anos no início da tira. Pronto começou a questionar o universo familiar através de interrogações que deixavam sem palavras a seus pais. Promotora dos direitos da mulher, interpela as convenções e o conformismo da classe média.
Odeia sopa, ainda que Quino gostasse. Nisto também aparece seu autor, que a utiliza “como metáfora do militarismo e da imposição política”. Ama os Beatles, as panquecas e ao personagem Pica-Pau. Mafalda expressou a toda uma geração que queria transformar o mundo.
Uma menina diferente Segundo sua própria autobiografia Mafalda nasceu em 15 de março de 1962. E não foi para a arte. Tampouco para brincar em uma história em quadrinhos. Sua origem teve que ver com a publicidade. E com a necessidade de sobrevivência de Quino, seu criador. O quadrinista foi contratado pela empresa Siam Di Tella para promover uma linha de eletrodomésticos, cuja marca comercial se chamaria Mansfield. Brincando com a letra M, do nome da marca, apareceu outro: Mafalda. Quino escreveu doze tiras com Mafalda como protagonista. No entanto, a empresa acabou não lançando os produtos e o trabalho foi arquivado. Mas sua personagem principal, não. Tampouco o elenco que a acompanhava: seus pais, Miguelito e Manuel. Sim, todos com o M de Mansfield. Com Mafalda encabeçando a fila, Quino buscou um novo rumo. E o encontrou na revista Primera Plana, que a publicou pela primeira vez em 29 de setembro de 1964. Em março do ano seguinte, já era uma tira diária. A menina terrível e seus amigos interpelaram ao país e ao mundo com sua irreverência durante quase uma década, até que em 25 de junho de 1973 o semanário “Siete días ilustrado” a publicou pela última vez. Mas Mafalda seguiu viva. Suas perguntas incômodas, seus ideais de justiça e liberdade, seus sonhos de um mundo melhor, ainda ressoam entre nós.
Segundo sua própria autobiografia Mafalda nasceu em 15 de março de 1962. E não foi para a arte. Tampouco para brincar em uma história em quadrinhos. Sua origem teve que ver com a publicidade. E com a necessidade de sobrevivência de Quino, seu criador.
O quadrinista foi contratado pela empresa Siam Di Tella para promover uma linha de eletrodomésticos, cuja marca comercial se chamaria Mansfield. Brincando com a letra M, do nome da marca, apareceu outro: Mafalda.
Quino escreveu doze tiras com Mafalda como protagonista. No entanto, a empresa acabou não lançando os produtos e o trabalho foi arquivado. Mas sua personagem principal, não. Tampouco o elenco que a acompanhava: seus pais, Miguelito e Manuel. Sim, todos com o M de Mansfield.
Com Mafalda encabeçando a fila, Quino buscou um novo rumo. E o encontrou na revista Primera Plana, que a publicou pela primeira vez em 29 de setembro de 1964. Em março do ano seguinte, já era uma tira diária.
A menina terrível e seus amigos interpelaram ao país e ao mundo com sua irreverência durante quase uma década, até que em 25 de junho de 1973 o semanário “Siete días ilustrado” a publicou pela última vez.
Mas Mafalda seguiu viva. Suas perguntas incômodas, seus ideais de justiça e liberdade, seus sonhos de um mundo melhor, ainda ressoam entre nós.
Empregado de escritório, agente de uma companhia de seguros, aceita o mundo tal como ele é. Não tem mais ambição do que pagar as contas todos os meses, manter o automóvel (um simbólico Citroen) e cuidar das plantas decorativas da casa. Sua única luta é contra as formigas. E é a quem Mafalda dirige suas perguntas mais incômodas, que costumam deixa-lo atônito e sem resposta. Representa a “clasemediaestúpida” (Mafalda, dixit)
Através dele fala o homem adulto típico da classe média urbana que se sente cômodo no mundo que vive e que não compreende as mudanças que promovem e pretendem os jovens. É daí que seu desconserto ante a interpelação de sua filha mais velha provoca momentos de alto teor simbólico.
Mãe de Mafalda. Dona de casa característica da classe média urbana dos anos 60 (e da sociedade patriarcal). Deixou a faculdade depois de casar e só se dedica a garantir o funcionamento do lar: lava, passa, cozinha, faz as compras, se ocupa de Mafalda e Guille.
Mafalda a questiona que haja abandonado a universidade para se dedicar “à casa”. Ante a filosofia sacrificial de sua mãe, a menina terrível da historieta argentina é corrosiva e antecipa que fará diferente e ingressará em pé de igualdade com os meninos no mundo adulto: quer estudar idiomas e trabalhar como intérprete nas Nações Unidas para promover a paz no mundo.
É o melhor amigo de Mafalda e seu complemento. Ingênuo, preguiçoso, sonhador, tímido, tímido, distraído. As aulas o angustiam, postar-se em marcha custa muito a ele. Uma espécie de niilismo é como pode ser classificado de modo filosófico.
“O sentido da vida é de mão dupla?”; “Por que justo a mim tinha que caber ser eu?”; “Não deixes para amanhã o que tenha que fazer hoje… desde amanhã mesmo começo”. São algumas de suas frases mais destacadas na tira.
Quino definia a si mesmo como uma mistura de Felipe e Miguelito. Os traços físicos do primeiro foram inspirados em um amigo seu, Jorge Timossi, que tinha “dois graciosos dentes de coelhinho”.
Manuel “Manolito” Goreiro é amigo de Mafalda. Também é estandarte de um capitalismo conservador e insaciável. Se mostra tosco, ambicioso. Encara tudo com uma finalidade mercantilista e busca maximizar o lucro: vende guloseimas a crédito e com juros a seus amigos; anuncia constantemente o armazém de seu pai; aposta em eliminar a concorrência (e levar Rockefeller à falência).
Estereótipo do imigrante galego (a cabeça quadrada, o cabelo de corte militar), pode ser mesquinho, Quino assegurou que tanto neste personagem quanto em “Susanita’ aparece “o que mais me perturba em mim mesmo”. Os traços físicos são inspirados em Anastacio Delgado, padeiro e pai de um amigo seu.
Falastrona, fofoqueira e briguenta, valoriza no entanto a amizade. Com Mafalda joga a reproduzir a ordem social que sua amiga questiona. Procura Manolito para brigar, confrontar e reafirmar sua concepção de mundo. A amizade e o amor (é uma apaixonada empedernida) são seus traços mais humanos.
Miguel “Miguelito” Pitti é o mais novo do grupo. Iludido, inocente, narcisista. É também o mais s también el más pungente em seu filosofar, muitas vezes abstrato. Debaixo de uma cabeleira similar a um pé de alface, não deixa de pensar e imaginar o mundo, cujo centro não é outro que ele mesmo.
Também é enérgico e contundente: “Se eu não chego a nascer… que golpe para a humanidade, hein!?”; “Não sei como fariam as pessoas para seguir se não tivesse respaldo”; “Eu diria que nos pusemos todos contentes sem perguntar por quê”.
É a versão radicalizada de Mafalda. Uma espécie de passo a mais que Quino projeta, mesmo que sem saber se algum dia se atreverá a dar. Partidária da revolução social, anticapitalista e explosiva. É com quem Mafalda “discute política”, ficando em uma posição mais realista e moderada.
Pequena, veemente, enérgica. Tem menor protagonismo que o resto do grupo mas sua participação jamais passa desapercebida. Equilibra o sistema, colocando-se no extremo oposto de Susanita e deixando a Mafalda em um ponto de equilíbrio.
É o irmão caçula de Mafalda e quem protagoniza as principais travessuras domésticas. Seu gosto por sopa desperta a rejeição da irmã, com quem mantém uma relação próxima e ambivalente. É lúcido, rebelde e ingênuo.
Usa chupeta. Se vale de uma “meia-língua” que Quino logra reproduzir con maestria. Apesar de transitar a primeira infância sente fascinação por Brigitte Bardot (tal qual o seu criador).
Guillermo Lavado, sobrinho de Quino, é quem inspirou o personagem.
Assim se chama a tartaruga que Mafalda e Guille criam como mascote. Com ela, Quino sublinha a morosidade e incerteza que atravessa a vida cotidiana.
Em uma tira que a define, Malfalda chama a Burocracia no primeiro quadrinho e esta aparece somente cinco quadrinhos depois. É então que a menina estira uma mão, oferece uma folha de alface e diz: “seu alfacezinho”.
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