“O dia da mulher ou dia da mulher trabalhadora é um dia de solidariedade internacional e um dia para relembrar sua força e sua organização”. (Alexandra Kollontai*)
Revolução russa, 1917.
(*) Texto publicado em 2018.
Há cem anos, 200 mil tecelãs russas em greve percorreram as ruas de Petrogrado em luta pelo fim da I Guerra Mundial, pelo aumento dos salários, contra a fome e em comemoração ao Dia Internacional da Mulher Trabalhadora. Era o dia 23 de fevereiro de 1917, 08 de março pelo calendário ocidental. Poucos dias depois, ocorreu a Revolução de Fevereiro, que derrubou o Czar e instalou um governo provisório democrático-burguês. Uma etapa decisiva para a Revolução Bolchevique de Outubro.
Essa greve deu início a diversos levantes, com as mulheres russas tomando a frente de lutas pelo pão e pelo fim da guerra, as quais contribuíram para construir a Revolução Socialista. Clara Zetkin, militante do Partido Comunista Alemão, já havia proposto em 1910, durante o II Congresso da Mulher Trabalhadora, a necessidade de ser criado um dia em homenagem à luta das mulheres. Foi decidido realizar o primeiro Dia Internacional da Mulher em 19 de março de 1911. Em 1913, a comemoração foi transferida para 08 de março.
O Oito de Março é o dia que comemora a história de luta das mulheres em todo o mundo, uma luta por dignidade, igualdade de direitos e salários, e também por uma sociedade justa e igualitária.
Hoje, no Brasil, as mulheres recebem os piores salários e estão submetidas às piores condições de trabalho. As terceirizações atingem principalmente as mulheres, em funções semelhantes ao serviço doméstico: são faxineiras, cozinheiras, crecheiras, cuidadoras, copeiras, auxiliares de enfermagem e outras funções subalternas.
O desemprego atinge principalmente as mulheres, as primeiras a serem demitidas, pois podem engravidar e “onerar” a empresa. Ainda se considera que o salário da mulher é complementar ao do homem, quando, de fato, muitas mulheres são hoje a única fonte de renda da casa e sustentam as famílias mais pobres. A situação se agrava para a mulher negra, que recebe os salários mais baixos do país e realiza os trabalhos mais precários.
As medidas de ajuste, adotadas desde o governo Dilma, atingem frontalmente as trabalhadoras, que têm mais dificuldade em conseguir o seguro desemprego e restrições à pensão por morte do marido. No governo Temer, o congelamento por vinte anos dos gastos públicos prejudicará setores já combalidos como a saúde e a educação. A retirada de direitos trabalhistas e a proposta de reforma da previdência atingirão em cheio as trabalhadoras, cuja idade mínima para aposentadoria passará para 65 anos, mesma idade dos homens. Alega-se que as mulheres vivem mais que os homens, sem considerar as múltiplas jornadas enfrentadas por elas no seu dia a dia.
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A legalização do aborto continua um tabu e enfrenta retrocessos no Congresso Nacional, com a proposta do Direito do Nascituro, que pretende criar obstáculos para que as vítimas de estupro possam abortar. Querem criminalizar os profissionais de saúde que assistem as mulheres nesses casos e proibir a distribuição da pílula do dia seguinte para as vítimas, ignorando que o aborto clandestino é a quarta causa de mortalidade materna no país.
As mulheres continuam sendo submetidas a várias violências cotidianas: a violência doméstica, caracterizada por agressões físicas e psicológicas, estupros e muitas vezes feminicídio, o assédio moral e sexual nos ambientes de trabalho, o abuso cotidiano dentro dos transportes coletivos, a cultura do estupro. O patriarcado e a consequente opressão das mulheres é milenar e antecede em muito o capitalismo, mas este sistema aumenta a exploração das mulheres, colocando-as em situação de inferioridade. Por isso, as comunistas afirmam que a luta pela igualdade das mulheres passa pela luta contra o capitalismo.
Somente numa sociedade sem exploração, a sociedade socialista, mulheres e homens poderão se emancipar de todas as opressões e da dominação de classe, gênero e raça/etnia.
O Dia Internacional de Mulher traz à luz a coragem de grandes feministas e comunistas que sacrificaram seu trabalho, sua família e suas próprias vidas na luta pela dignidade de todas as mulheres e pela emancipação humana. Deve, também, nos lembrar das dificuldades diárias de nossas companheiras, amigas, mães, irmãs e de todas as mulheres da classe trabalhadora, nos mostrando que ainda há muito a se fazer, nos fortalecendo para nos organizarmos coletivamente e darmos continuidade a essa grande batalha.
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