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Natural de Yuti, Paraguai, Erasto Rolon , nascido em 1883, migrou para o Brasil e se estabeleceu no Rio Grande do Sul. Casou e sua lua-de-mel foi a viagem de migração para Foz do Iguaçu. Aqui chegou com a mulher, Carlota Aires Rolon, em 1904. O casal teve 14 filhos (7 homens e 7 mulheres), dos quais vivem 5, entre eles a caçula da família Maria Odete Rolon.” (Juvêncio Mazzarolo, fevereiro de 1994)
Onde se originou o ramo da família Rolon que se plantou, criou raízes e cresceu em Foz do Iguaçu?
No fim do século passado (XIX), ainda jovem, meu pai foi aconselhado por seu irmão a fugir para o Brasil, para as estâncias do Rio Grande do Sul, por que o Paraguai estava para entrar em revolução ou guerra civil. Muitos paraguaios debandaram. Meu pai foi para Santo Angelo, Rio Grande do Sul, numa caravana de oito pessoas com 60 burros. No grupo estava também um irmão de meu pai, que sumiu e ninguém sabe que fim levou. Em Santo Angelo meu pai foi trabalhar na fazenda do que viria a ser o meu avô por parte da mãe.
. Lá, ‘seu” Erasto Rolon casou com a filha do fazendeiro, que viria a ser sua mãe…
Sim. Casaram em 1904, ele com 21 anos e ela com 15. Casaram em San Pedro, Argentina, porque no Brasil não havia casamento civil. Só 20 anos depois meus pais casaram no civil no Brasil.
. Quando e por que seus pais vieram viver em Foz do Iguaçu?
Logo após o casamento. Como minha mãe tinha apenas 15 anos, minha avó quis vir junto. E vieram também um tio e uma tia nossa. Cruzaram para a Argentina e foram a cavalo até Posadas, saindo de lá de barco até Foz do Iguaçu. Meu pai nunca mais voltou ao Rio Grande do Sul nem ao Paraguai.
. O que os atraiu para cá? Vieram fazer o quê?
Foram atraídos pelas terras da região. Meu pai tinha certo conhecimento desta região e certo preparo para a agricultura. Conseguiu terras às margens do rio Tamanduá. A Colônia Militar cedia terras mediante a apresentação de um simples requerimento dos interessados.
Meu pai tinha certo conhecimento desta região e certo preparo para a agricultura. Conseguiu terras às margens do rio Tamanduá. A Colônia Militar cedia terras mediante a apresentação de um simples requerimento dos interessados.”
. A lua-de-mel de seus pais, então, foi uma épica viagem do Rio Grande do Sul a Foz do Iguaçu?
É. Casaram no dia 12 de dezembro e chegaram aqui no dia 27, em 1904.
. Viviam de que nos primeiros tempos?
Viveram da agricultura até 1920, quando meu pai resolveu se estabelecer com comércio na cidade, nesta mesma área onde moramos hoje, no bairro Boicy. Em 1924, com a invasão de Foz do Iguaçu pelos revoltosos da Revolução Paulista, a família teve que se refugiar na Argentina. Lá meu pai passou a trabalhar com erva-mate até 1928, quando construiu um casarão na avenida Jorge Schimmelpfeng, para moradia e comércio. Logo que saíram os revolucionários em 1925, minha mãe voltou a Foz do Iguaçu e foi morar na casa com minha avó.
. Quando faleceram seus pais, Erasto e Carlota Ayres Rolon?
Meu pai faleceu em 1938, aos 55 anos de idade, quando eu tinha apenas 4 anos, e minha mãe faleceu aos 82 anos em 1971.
. Teria algum outro fato marcante da vida da família Rolon?
Um irmão meu foi assassinado na Argentina, quando lá trabalhava com meu pai na erva-mate. Ele e outro irmão iam ao acampamento da obrage com o dinheiro para o pagamento dos peões e sofreram uma emboscada. Para roubar o dinheiro, o próprio compadre matou meu irmão. O outro conseguiu escapar escondendo-se no mato, mas assistiu a morte do irmão.
. Passando para a sua própria história, que oportunidade teve de estudo, de trabalho?
Fiz o curso primário na Escola Bartolomeu Mitre, a primeira da cidade, fundada em 1928, em frente à Praça Getúlio Vargas. A escola tinha 10 salas de aula e funcionava de manhã e à tarde. A diretora era Ruth Pedroso. Terminado o primário, eu não sabia se ia a Curitiba estudar ou se ficava por aqui fazendo crochê. Minha mãe não queria que fosse. Queria que fizesse curso de datilografia para trabalhar em escritório. Nessa época as Irmãs Vicentinas construíram o Colégio São José, inaugurado em 1949. Lá fiz o ginásio. E depois cursei o Normal Regional.
. E faculdade?
Só pude cursar faculdade em Guarapuava, indo para lá todos os fins de semana, de 1970 em diante. Muitos professores de Foz do Iguaçu e da região cursaram faculdade lá. Devo muito àquela faculdade. Aliás, sempre tive ótimos professores.
. Mas sua história em sala de aula e escola é maior como professora do que como aluna, não?
É verdade. Comecei a lecionar em 1950, enquanto cursava o Normal Regional. Comecei lecionando aos sábados para soldados analfabetos do quartel. Em 1953, como professora municipal, fui designada para lecionar em Guaíra, que pertencia a Foz do Iguaçu. Lecionei lá até 1956, mas minha mãe achou melhor eu voltar. Voltei e saí do magistério.
Comecei a lecionar em 1950, enquanto cursava o Normal Regional. Comecei lecionando aos sábados para soldados analfabetos do quartel. Em 1953, como professora municipal, fui designada para lecionar em Guaíra, que pertencia a Foz do Iguaçu.”
. Como era Guaíra naquela época?
Uma cidade pequena, habitada mais por argentinos do que brasileiros. Era “estrangeiro” quem falasse português. Quem mandava na vila era a Companhia Mate Laranjeira. Guaíra era uma miniatura de cidade, com água encanada, bem urbanizada, tudo feito pela Mate Laranjeira, criada pelos ingleses para extração de erva-mate e depois passada aos argentinos.
. A senhora deixou o magistério para trabalhar em quê?
Fui trabalhar no Escritório Contábil Titã, de Júlio Rocha Neto. Trabalhei lá de 1956 a 1960, quando me formei na escola Normal, hoje curso e magistério em nível secundário, e voltei a lecionar. Daí para a frente nunca mais saí do magistério. Em 1960, o governador Moisés Lupion começou a nomear todos os professores estaduais. Fui a Curitiba tentar minha nomeação. Na Secretaria da Educação disse que queria falar com o governador. Riram de mim. Deram-me um formulário para preencher um requerimento. Eu disse que sabia redigir e não precisava de formulário. Redigi o requerimento e dias depois estava nomeada. Na minha vida escolar, como aluna ou professora, passei por todas as leis, todas as reformas de ensino do país.
. Como assim?
Fui diretora da Escola Bartolomeu Mitre de 1963 a 1967. Em 1968 fui inspetora de ensino primário e no ano seguinte voltei à sala de aula como professora suplementarista. Em 1970 fiz uma viagem de 40 dias à Europa, o que me ajudou muito como professora de geografia. Sou licenciada em Geografia, com especialização em Geografia Humana e Turismo. Aliás, sou professora do curso de Turismo da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Foz do Iguaçu (Facisa). Também fui vice-diretora do Colégio Monsenhor Guilherme e, de 1974 a 1983, inspetora de Ensino de Segundo Grau. Em 1983 me aposentei pelo Estado e voltei à Escola Bartolomeu Mitre. Em 1988 me aposentei pelo segundo padrão e parti para as escolas particulares.
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