– Acordes, poesia e resistência: o samba comemora cem anos. Ritmo vindo da África ganhou as ruas e atingiu o sucesso no Brasil. Historiadores e músicos consideram o dia 27 de novembro de 1916, data de registro de ‘Pelo Telefone’, como marco de fundação do gênero musical –
Clique na foto para ouvir reportagem da CBN/Globo Radio sobre cem anos desde a gravação do samba “PELO TELEFONE” (6 min)”
Pixinguinha, João da Bahiana e Donga: trio fugia da repressão na casa de Tia Ciata (Crédito: reprodução)
‘O chefe da folia Pelo telefone manda me avisar Que com alegria Não se questione para se brincar’
Já faz cem anos. Foi sem fazer alarde que o compositor Ernesto Maria dos Santos, o Donga, cruzou as portas da Biblioteca Nacional, no Rio, para registrar a música ‘Pelo telefone’ como ‘samba’ (confira a partitura). Pode parecer pouco, mas num tempo em que os ritmos africanos eram vistos como ‘música barata’, e reprimidos com violência, o registro da música foi sem dúvida um ato de coragem. O pesquisador de música brasileira, Ricardo Cravo Albin, lembra que pela primeira vez, o samba e a música erudita estavam lado a lado. ‘Como tava fazendo razoável sucesso, vamos defender essa música para que ninguém roube. Aí foram a um lugar que só os compositores eruditos tinham acesso, a Biblioteca Nacional, para registrar. ‘Ah, mas música popular, precisa registar?’ ‘Não, nós queremos porque talvez sejamos ameaçados…’ E sabiam muito bem que samba era como passarinho, de quem pegar primeiro’, explica.
‘Ai, ai, ai É deixar mágoas pra trás, ó rapaz Ai, ai, ai Fica triste se és capaz e verás’
O primeiro samba registrado da história seria o grande sucesso do carnaval de 1917. A letra simples – e até inocente – ganharia várias paródias e versões naquele ano. Mas o sucesso dividiria as manchetes dos jornais com uma polêmica: afinal, quem compôs ‘Pelo Telefone’? O historiador Luiz Antonio Simas lembra que o registro feito por Donga contou com uma certa dose de malandragem do sambista. ‘Todos os testemunhos dão conta de que o ‘Pelo Telefone’ foi uma criação coletiva. O que acontece ali – e esse mérito não podemos tirar do Donga – é a percepção de que o samba estava entrando em uma fase em que seria consumido. O Donga tem essa percepção e registra o ‘Pelo Telefone’ sozinho. Mas a questão de compra e venda de sambas, depois, passaria a ser muito comum’, ressalta. Proteção – Era num terreiro na casa da baiana Hilária Batista de Almeida, a Tia Ciata, que a nata da primeira geração de sambistas se encontrava para fazer seu batuque, louvar os orixás e dançar o arrasta pé da época. Mãe de santo e quituteira das boas, ela trabalhava como curandeira para o então presidente da República, Wenceslau Brás.
Hilária Batista de Almeida, conhecida como Tia Ciata, foi uma das guardiãs da primeira geração de sambistas. (Foto: reprodução)
Sinhô, o primeiro ‘pop-star” brasileiro. (Foto: reprodução)
(Reportagem de Gabriel Sabóia e Paula Martini – Globo) – Reproduzido do site CBN/Globo
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