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Saudade nos trilhos, fragmento de Nilson Monteiro
Saudade nos trilhos, fragmento de Nilson Monteiro
22 de julho de 2024
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O texto integra o livro “Mugido de Trem”, romance publicado pelo autor em 2013.
O trem já despejou e carregou velhos, malas, crianças, cheiro de fumo de corda, sacos de farinha lavados com sabão de tripas, alguma galinha desesperada dentro de um saco encardido, passos conhecidos, palavras rudes, risadas, alguma lágrima desesperada dentro de rostos secos, um gordo com as banhas saltando por cima da cinta, lâminas de enxada, testas brancas e chapéus atolados, um rádio de pilha, latas de banha.
Alguém tão conhecido que surge tão desconhecido badala o sino de metal. Estridente, quase dolorido, aumentando esse buraco no peito, as saudades do que ainda nem ficou.
O trem quase belisca os sarrafos das cercas, invade os quintais, passa dentro das casas, corre solto e preso aos dormentes. Passa, com o rastro de óleo queimado despejado de sua barriga, os goles de óleo pingando sobre a brita serpenteada em meio às casas.
Ninguém se mete a dizer por que os meninos empinam papagaios no meio de seu rumo, sem medo do bicho de ferro que as professoras desenham em sua imaginação, nem porque as lavadeiras evitam carregar suas trouxas em meio aos trilhos, contando a vida da cidade, nem porque os homens andam de bicicleta ou a cavalo do lado de fora dos trilhos, falando de truco ou cortando com a língua as mulheres dos outros.
Os cachorros latem sempre para o trem, basta ele passar bufando, feito cobra, tremendo nas cancelas. Segue sua sina. O trem parece ter decorado as serras ou planaltos, as dobras dos morros, suas encostas lisas ou lanhadas, a mansidão dos campos, a topografia hostil ou risonha, as linhas fechadas, as linhas abertas, a bitola exigindo paciência, as estações grudadas nos mapas, as paradas, as mesmas paradas, o gado ruminando no pasto.
Segue sua vida de driblar as curvas, feito lagarto de couraça engraxada, suja, pesada, espalhando os cabelos do capim beira-de-linha, rasgando o vento. Segue sua vida de apitar.
O trem não tem alma de ferro.
(NM, em “Mugido de Trem”)
.
Nilson Monteiro, poeta, escritor e jornalista brasileiro.
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