18 de outubro de 2024
Anuncie aqui
Sobre
Fale conosco
De Letra
Poesia
Literatura
Tirando de Letra
Livro
Contos e Crônicas
On-Line
Cultura Digital
Cinema
Vitrine
Oportunidade
Rádio
Cultura em Movimento
Música
Artes cênicas
Fotografia
Memória
Guatá
Bem Viver
Vida saudável
Ecologia
Ciência
Universidade
Geral
Fronteiras
Trinacional
Mulher
Movimentos Sociais
Antirracismo
Povos
Assista
PESQUISAR
Saudade nos trilhos, fragmento de Nilson Monteiro
Saudade nos trilhos, fragmento de Nilson Monteiro
22 de julho de 2024
Compartilhar
O texto integra o livro “Mugido de Trem”, romance publicado pelo autor em 2013.
O trem já despejou e carregou velhos, malas, crianças, cheiro de fumo de corda, sacos de farinha lavados com sabão de tripas, alguma galinha desesperada dentro de um saco encardido, passos conhecidos, palavras rudes, risadas, alguma lágrima desesperada dentro de rostos secos, um gordo com as banhas saltando por cima da cinta, lâminas de enxada, testas brancas e chapéus atolados, um rádio de pilha, latas de banha.
Alguém tão conhecido que surge tão desconhecido badala o sino de metal. Estridente, quase dolorido, aumentando esse buraco no peito, as saudades do que ainda nem ficou.
O trem quase belisca os sarrafos das cercas, invade os quintais, passa dentro das casas, corre solto e preso aos dormentes. Passa, com o rastro de óleo queimado despejado de sua barriga, os goles de óleo pingando sobre a brita serpenteada em meio às casas.
Ninguém se mete a dizer por que os meninos empinam papagaios no meio de seu rumo, sem medo do bicho de ferro que as professoras desenham em sua imaginação, nem porque as lavadeiras evitam carregar suas trouxas em meio aos trilhos, contando a vida da cidade, nem porque os homens andam de bicicleta ou a cavalo do lado de fora dos trilhos, falando de truco ou cortando com a língua as mulheres dos outros.
Os cachorros latem sempre para o trem, basta ele passar bufando, feito cobra, tremendo nas cancelas. Segue sua sina. O trem parece ter decorado as serras ou planaltos, as dobras dos morros, suas encostas lisas ou lanhadas, a mansidão dos campos, a topografia hostil ou risonha, as linhas fechadas, as linhas abertas, a bitola exigindo paciência, as estações grudadas nos mapas, as paradas, as mesmas paradas, o gado ruminando no pasto.
Segue sua vida de driblar as curvas, feito lagarto de couraça engraxada, suja, pesada, espalhando os cabelos do capim beira-de-linha, rasgando o vento. Segue sua vida de apitar.
O trem não tem alma de ferro.
(NM, em “Mugido de Trem”)
.
Nilson Monteiro, poeta, escritor e jornalista brasileiro.
Compartilhar
Contos e Crônicas
ANTERIOR
Nesta terça (23) tem sessão especial gratuita de “Puan”, na Unila
PRÓXIMO
Festival de Dança de Joinville tem mostras e competições inclusivas
Leia mais
Contos e Crônicas
Educação
O Professor / El Maestro, de Eduardo Galeano
15 de outubro de 2024
Contos e Crônicas
El Descobrimiento, por Eduardo Galeano
12 de outubro de 2024
Contos e Crônicas
Revista Escrita
El misterioso fin del Planeta Tierra, conto de Umberto Eco
2 de outubro de 2024
Últimos posts
Bibliotecas e Livros
Literatura
Acervo de obras raras da Biblioteca Pública do Paraná possui livro de 1584
17 de outubro de 2024
Segurança Alimentar
Itaipu participa de lançamento do programa Alimento Saudável no Prato, do Governo Federal
17 de outubro de 2024
Fronteira
Parque Nacional do Iguaçu ganha destaque em programa de televisão dos EUA
17 de outubro de 2024
Agenda
Cinema
“Pantanal+10’: nesta quinta (17), cinedebate na praça discute ecologia em Foz
17 de outubro de 2024
Educação
Inclusão
MEC abrirá 1,25 milhão de vagas em curso de educação inclusiva
16 de outubro de 2024
Fronteira
Vida saudável
Inscrições para a Corrida pela Vida já estão abertas em Foz do Iguaçu
16 de outubro de 2024
Assine o nosso boletim!
Assine as notícias da Guatá e receba atualizações diárias.
INSCREVA-SE AGORA!