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Damaris Kaninsãnh Felisbino apresenta trabalho no mestrado na UEL – Fotos: arquivo pessoal
A UEL concedeu o título de mestre em Estudos da Linguagem à segunda estudante indígena a obter o título de mestrado na instituição em mais de meio século de história. Damaris Kaninsãnh Felisbino defendeu sua dissertação no dia 7 de outubro, no Colégio Estadual Indígena Benedito Rokag, em Tamarana. A defesa contou com a presença de professores da língua kaingang, estudantes e moradores da Terra Indígena Apucaraninha, território indígena cuja linguagem característica serviu como objeto de pesquisa.
A banca examinadora foi formada pelo seu orientador, o docente do Departamento de Letras Marcelo Silveira, e pelo professor do Departamento de Serviço Social Wagner Roberto Amaral. Além dos professores da UEL, que são integrantes da Comissão Universidade para os Índios (Cuia), a banca contou com a presença da docente do Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas, da Universidade de Brasília (UNB), Ana Suelly Arruda Câmara Cabral.
“Representa muito porque, até 25 anos atrás, os indígenas sequer imaginariam acessar a universidade. Era um desejo muito distante, fora da expectativa. Mas, à medida que as lutas pelas cotas e pelas ações afirmativas foram acontecendo, isso foi avançando. E a UEL e o Paraná são pioneiros. A UEL está entre as quatro universidades estaduais que, em 2001, estabeleceram a criação de vagas suplementares para indígenas”, explica Amaral.
Já a professora Ana Suelly Arruda Câmara Cabral apontou que o trabalho realizado pela estudante é fundamental para o fortalecimento da língua e da cultura Kaingang, principalmente para a população da Terra Indígena Apucaraninha, onde ela vive e trabalha como professora.
“Quem sempre escreveu e pensou a língua indígena foram sempre os linguistas não indígenas, como o professor Ludovico (Carnasciali, in memorian). A Damaris representa essa ‘virada’, ou seja, uma indígena Kaingang pensando a língua do seu povo”, conclui Amaral.
Damaris Felisbino (centro) ao lado da filha, Manuela, e dos professores da UEL (Foto: Arquivo pessoal)
A iniciativa que culminou na aprovação da Lei Estadual nº 13.134/2001, pela Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), foi adotada em paralelo às movimentações políticas e educacionais realizadas na Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS), Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e na Universidade Estadual do Mato Grosso (Unemat).
Com o avanço trazido pelo marco legal, indígenas moradores do território paranaense passaram a contar com uma política de ingresso específica ao Ensino Superior, contando com vagas suplementares através de um “vestibular indígena”, como é popularmente chamada a porta de entrada da população indígena na graduação. Posteriormente, após alterações trazidas com a Lei Estadual nº 14.995/2006, houve a ampliação de três para seis vagas suplementares.
Entre 2002 e 2020, as Instituições Estaduais de Ensino Superior (IEES) do Paraná e a Universidade Federal do Paraná (UFPR) realizaram 19 edições do “vestibular indígena”. “O Paraná é o único estado que tem este desenho de ingresso e permanência na universidade de forma permanente. Isso é um fato importante, então você imagina na pós-graduação. É uma grande novidade para eles e para a universidade. A Damaris representa justamente essa luta, de se projetar no curso de Letras, terminar a graduação e a pós-graduação”, comemora Wagner Roberto Amaral.
Atualmente, há 38 estudantes indígenas na Universidade Estadual de Londrina, em 15 cursos de graduação. Outros três estudantes atravessam a Pós-Graduação Strictu Sensu e Lato Sensu. Já quando consideradas as sete universidade estaduais do Paraná, o número de estudantes indígenas em cursos de graduação salta para 240.
Em junho do ano passado, o Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Política Social da UEL concedeu o título à estudante Gilza Ferreira de Felipe Pereira, que se tornou a primeira indígena a obter o título de mestre pela UEL.
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