Ex-presidente do Uruguai encerrou Jornada de Integração que durou dois dias em Foz do Iguaçu – Foto: ALBA Movimentos
O ex-presidente do Uruguai Pepe Mujica discursou na noite da sexta-feira (23) para ativistas e militantes sociais de 26 países diferentes em ato que marcou o encerramento da Jornada Latino-americana e Caribenha de Integração, em Foz do Iguaçu (PR).
O evento, que promoveu atos políticos e mesas de debates durante dois dias e reuniu mais de 4 mil pessoas, foi lançado em outubro por Mujica, acompanhado por outras organizações como Alba Movimentos e a Confederação Sindical dos Trabalhadores das Américas (CSA).
O ex-mandatário propôs uma série de ações práticas que, segundo ele, poderiam ser implementadas imediatamente pelos países da América Latina, “um conjunto de coisas que chamamos de ‘mudanças de primeira geração'”.
“Suponhamos que alguns presidentes tenham vontade de ir adiante. Como eu vejo por onde devemos começar? Um delegado do presidente vai falar, em nome do presidente, com o chefe do Corpo de Bombeiros e diz que eles devem organizar uma brigada que esteja sempre com as malas prontas para viajar sempre quando ocorra um desastre em algum país, incêndios ou cataclismas”, propôs Mujica.
Segundo o líder uruguaio, “isso vai demonstrar aos povos que existe solidariedade de outros povos”. Ele ainda mencionou outros projetos, como a criação de um documento comum para viagens entre os países latino-americanos, a criação de um banco de órgãos comum para transplantes e cooperação energética transfronteiriça.
“Isso não elimina a política dentro das sociedades, não pode substituir as questões de poder dentro dos países. Isso na verdade é um conjunto de medidas para fazer nossa América mais forte, num mundo que se globaliza e que não consegue resolver os problemas de classe. Isso não substitui a luta política e, por isso mesmo, não é de esquerda nem de direita, é de ser ou não ser”, disse.
Ao mesmo tempo em que propôs o que chamou de “mudanças de primeira geração”, Mujica criticou outras propostas de integração, como a criação de uma moeda comum latino-americana, apesar de rechaçar a hegemonia do dólar.
“De vez em quando dizemos: ‘precisamo de uma moeda comum’. Pensamos sempre no final, no mais difícil. Nós precisamos aprender a negociar com nossas moedas e não depender do dólar”, disse.
O ex-presidente ainda classificou o comércio entre os países latino-americanos como “miserável” e disse que o acordo entre Mercosul e União Europeia “não vinham bem e nada virá de bem”. “Perdemos 22 anos”, disse, se referindo ao tempo que o acordo vem sendo negociado.
Mujica, por fim, propôs a criação de símbolos regionais latino-americanos e disse que “não podemos aceitar o nome que colocaram de fora: ‘América Latina'”.
“E como incluímos nesse nome os que roubamos da África para cultivar açúcar no nosso continente? E como incorporamos os povos indígenas nesse nome? Os que vieram do mundo árabe, os palestinos, os asiáticos, japoneses, de todos os lados?”, questionou.
“Precisamos de um nome próprio, precisamos inventá-lo. Precisamos de um hino que nos identifique, uma bandeira que nos identifique, uma data. E para quê? Para que em todas as escolas da nossa América haja um dia para a comunidade”, disse o ex-presidente.
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