– Um conto de Sidney Giovenazzi –
Efeito sobre foto de Mario Minowa Nem a própria mãe do pequeno Bartolomeu tentou entender o estranho hábito do menino. Era lógico que fosse apenas hábito. Algo natural como o traço da sobrancelha ou o calor do fogo. Naquela manhã, Bartolomeu saiu de casa para procurar pedras. Circulava paciente pelas redondezas. Cada dia lhe orientava uma direção. Driblava confusões, evitando as pedrinhas de defeitos de quintais ou muros. Preferia determinar-se que aquelas imperfeições deveriam ser inúteis para os seus planos. Muitas vezes era necessário percorrer distância preocupante. Depois de uma chuva, tudo ficava limpo e o menino precisava da lonjura para encontrar as pedras. Era um estranho modo de passar o tempo. Mais tarde se juntava aos amigos, para a escola. Mas o ritual com que abria seus dias era respeitado por ele criteriosamente. Depois do café com leite, abria a porta e descia a pequena escada, para tomar o rumo de sua procura. Levava consigo uma latinha. E se divertia com o som de seus achados, quando os depositava nela. O canto e o centro do fundo da lata produziam sonoridades diferentes. O formato delas também influía. Não considerava válidos os montes de pedra de obras. Era necessário alguma esforço para validar o interesse por elas. Bartolomeu imaginava aquele hábito como se fosse um trabalho.
Sidney Giovenazzi é escritor e músico em São Paulo, SP. Foto do arquivo de Mario M. Minowa
Assine as notícias da Guatá e receba atualizações diárias.