Inaugurando um novo eixo temático com a exibição de filmes de autoria indígena, entre obras clássicas e contemporâneas realizadas por coletivos e diretores de diversas etnias e regiões do Brasil, a série Cinema #EmCasaComSesc apresenta dois documentários de Alberto Alvares: A Origem da Alma – Tekowe Nhepyrun, que apresenta depoimentos dos mais velhos da aldeia Yhowy, Guaíra-PR, compartilhando conhecimentos sobre a origem do modo de ser Guarani e O Último Sonho, que homenageia o grande líder espiritual Guarani Wera Mirim – João da Silva, da aldeia Sapukai, de Angra dos Reis-RJ.
A série Cinema #EmCasaComSesc oferece a cada semana streaming gratuito de filmes em alta qualidade e sem necessidade de cadastro; para assistir, acesse sescsp.org.br/cinemaemcasa
A Origem da Alma – Tekowe Nhepyrun
“Para nós Guarani, a alma é a conexão entre o corpo e o espírito”, diz o diretor Alberto Alvares. O documentário apresenta o depoimento dos mais velhos da aldeia Yhowy, em Guaíra – PR, compartilhando conhecimentos sobre a origem do modo de ser Guarani.
A Origem da Alma – Tekowe Nhepyrun – (Brasil, 2015, 36 min, Documentário, Livre) Direção e Fotografia: Alberto Alvares / Montagem: Alberto Alvares e Guilherme Cury
O Último Sonho
Neste documentário, Alvares segue, como em seus outros filmes, apresentando como personagens centrais os sábios das aldeias guarani. O filme é uma homenagem a Wera Mirim, grande líder da aldeia Sapukai, na região de Angra dos Reis. Essa homenagem vai alcançar camadas mais profundas do que um simples memorial pois, além de trabalhar com imagens de arquivo do xeramoin (avô, um dos mais velhos da aldeia, na língua guarani) o cineasta mostra essas imagens aos parentes que o conheceram, dando-nos a dimensão do vasto conhecimento que o personagem detinha, mas também registrando a comoção dos espectadores guarani à forma como sua presença alargava e incentivava o sentido da vida em comunidade.
O Último Sonho foi premiado no DocLisboa em 2019, tendo sido exibido em várias mostras e festivais mundo afora.
O Último Sonho – (Brasil, 2019, 60 min, Documentário, Livre) Direção e Montagem: Alberto Alvares / Fotografia: Alberto Alvares e Guilherme Cury Som: Jessica Dionisio / Produção: Aldeia Sapukai
Alberto Alvares, ou Tuparay, em guarani, é cineasta indígena da etnia Guarani Nhandewa, nascido na aldeia de Porto Lindo, Mato Grosso do Sul. É também ator, professor e tradutor de Guarani. Mora no Rio de Janeiro desde 2010, período em que começou a se dedicar ao audiovisual como realizador e formador. Graduado em licenciatura intercultural para educadores indígenas pela Faculdade de Educação da UFMG, foi professor de audiovisual na formação de cineastas indígenas em Biguaçu (SC), em Paranhos (MS), no projeto da série de tevê Amanajé, o mensageiro do futuro e no projeto Inventar com a Diferença, da UFF. (IMS)
Alvares idealiza, filma e monta seus próprios projetos cinematográficos. “‘É mais uma porta para a gente levar a cultura guarani para todos os lugares”, disse ele em recente entrevista. O diretor explica a importância do documentário para a resistência cultural de seu povo. “O equipamento (de filmagem) tem preço, podemos consertar. A memória tem valor maior, inestimável. E quando ela se perde, é difícil trazê-los de volta”, diz ele, no texto de apresentação de um dos filmes da programação.
Pelo ciclo de autoria indígena, a cada mês, um filme ou seleção de filmes entra em cartaz na plataforma do Sesc Digital – Cinema #EmCasaComSesc e fica disponível ao público pelo período de 30 dias. São produções que ampliam olhares sobre a diversidade cultural, por meio de um cinema que se realiza nas e com as florestas, os cerrados, a natureza, o território, a cosmologia. Os filmes resultam de um intenso processo de apropriação tecnológica contemporânea a partir de matrizes culturais tradicionais que fazem do cinema um potente caminho para o fortalecimento cultural, fonte de expressão de diversas formas de ser e estar no mundo e de transmissão de saberes.
Para a curadoria desse primeiro ciclo especial, o CineSesc convidou a documentarista e antropóloga Júnia Torres, organizadora e curadora do forumdoc.bh – Festival do Filme Documentário e Etnográfico de Belo Horizonte. Segundo Júnia, o intuito dessa programação é “compartilhar títulos exemplares de um fenômeno em curso: a consolidação de novos protagonismos na cena autoral audiovisual recente, resultado da revolução tecnológica promovida pelo cinema digital e suas apropriações estéticas por diferentes grupos”.
Este ciclo de filmes confere visibilidade a partir dessa produção, abrindo um canal potente para um cinema pulsante, realizado por novas e novos realizadores e realizadoras de diferentes povos. “São filmes que, ao incluir sujeitos historicamente apartados da perspectiva autoral cinematográfica, demarcam novos territórios, provocam um deslocamento e uma descolonização do olhar e uma ampliação conceitual e política que importa potencializar e que não podemos, hoje, desconhecer”, completa a curadora.
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