Ilustração: captura tela
A lenda urbana de Ponta Grossa de que existe um lobisomem na Ronda, um dos bairros mais antigos da Cidade, não possui uma única versão. Pela tradição – e não está em jogo aqui se existe comprovação científica de existência – o Lubi pode ser visto em noite de lua cheia e serve de alerta para que as pessoas não arrisquem sair de casa ou ficar expostas, principalmente sozinhas, para curtir os encantos noturnos do clarão lunar.
Uma das versões pontagrossenses do Lubi pintada em detalhes por Osiris Guimarães (2004). Na criativa interpretação do Osires, a origem do Lobisomem na Ronda estaria associada ao caminho dos tropeiros que, vinham do Sul rumo à feira de Sorocaba (SP), e paravam na região. O artista também sugere que a personagem manteve, por mais de um século, a tarefa de apavorar a criançada, mas que já não era exclusividade de uma faixa etária, dado a importância da lenda. E é exatamente aí que mora o perigo!
Em versões mais recentes, o Lubi desliza bem à vontade na região e desenvolveu uma simpatia crescente pelos prédios públicos localizados no bairro. Daí em diante, o dito cujo também cultiva alguns vícios, em geral semelhante aos registrados em humanos – eleitos ou não – que vivem na área e não querem sair de jeito algum. Além das noites de lua cheia, o Lubi não se limita aos tetos escuros e supostamente mal assombrados da comunidade.
‘Ele’ avançou em hábitos que seriam mais complicados do que a simples cordialidade de convivência estima. Servidores de boa índole asseguram que, em fim de expediente – inclusive naqueles momentos que restam poucas pessoas nos longos e escuros corredores da municipalidade – a ‘figura’ tira as barbas (e pelos) do molho para circular com estranha naturalidade, que preocupa quem precisa alongar no horário laboral.
Suspeita-se, inclusive, que o Lubi estaria orientando cargos comissionados com uma assessoria de dar inveja aos servidores públicos concursados, que mal conseguem garantir o salário e cobrar os índices inflacionários, legalmente previstos, mas nem sempre repostos.
Daí porque, ao Lubi, não interessa dialogar com a grande maioria dos trabalhadores do serviço público. Ele quer mesmo é manter e ampliar as viciadas regalias que o deixam próximo de quem tem a caneta para nomear, criar outros cargos, assegurar diárias especiais ou mesmo passagens aéreas para negociações diplomáticas internacionais custeadas pelos milhares de honestos pagadores da Província.
O Lubi também não gosta do térreo dos prédios e, diz a versão funcional da lenda, prefere deixar indícios de circulação em salas confortáveis, onde as chefias garantem fazer os melhores acordos ao interesse do Contriba (Sua Excelência).
É claro, ‘Ele’ não deixa se fotografar por vaidade e prefere sentar na cadeira especial, em geral na esquerda ou direita mais próxima da chefia. Em momentos de comemoração de resultado eleitoral para alongar a temporada em palácios da Ronda, Lubi teria inclusive dividido charutos especiais e doses alcoólicas curtidas por 12 ou 18 anos em barris de madeira nobre.
Dentre as incontáveis suspeitas e marcas que o Lubi deixa na Ronda, ao longo das duas décadas recentes, destaca-se a presença mais ousada a cada dois anos, entre agosto e outubro, quando os tais mandantes fazem de (quase) tudo para se (re)eleger e ficar mais alguns anos à espreita da oficialidade e da reprodução de vícios que asseguram enriquecimento fácil (ilícito ou não) com o dinheiro que os milhares de mortais precisam repassar religiosamente ao caixa público. Nos casuais meses citados, o Lubi, de acordo com informações, não se esconde e, por vezes, até apaga a luz antes mesmo de encerrar o expediente da casa.
Por fim, existem outras versões e detalhes que, em breve, devem resultar na primeira biografia não autorizada do Lobisomem da Ronda. Ainda assim, trata-se de uma interpretação, que pode ser contestada pelos interlocutores ou humanos que assumem proximidade e simpatia pela imortal personagem que prefere viver na Ronda, ao Sudeste de Ponta Grossa. “No te lo crees? ¡Pero tampoco lo dudes!”
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