Entrada principal da Biblioteca Pública Municipal Elfrida Engel Nunes Rios, que integra o prédio da sede da Fundação Cultural de Foz do Iguaçu – Foto: Denise Paro / Guatá
Texto e fotos de Denise Paro, especial para Guatá Uma geração de leitores de Foz do Iguaçu passou pelas mesas da Biblioteca Pública Elfrida Engel. Quando foi inaugurada, em 6 de setembro de 1963, a biblioteca era um oásis de conhecimento na cidade que ainda desabrochava. Hoje, sexagenária, é ponto de encontro de crianças, jovens e idosos que encontram no lugar um porto seguro para buscar conhecimento.
A tentação do mundo digital, das redes sociais e dos mecanismos de busca de informações na internet não tiram o encanto da biblioteca. Lá os leitores encontram o que falta na esfera virtual: silêncio e concentração.
Com um acervo de aproximadamente 100 mil exemplares, a biblioteca tem obras estrangeiras, brasileiras, literatura, livros técnicos, jornais, revistas, livros em braile e livros infantis. Atualmente, o espaço está dividido em duas partes: a biblioteca infanto-juvenil e a geral, com as demais obras. A biblioteca também dispõe de acervo em braile.
Os livros são adquiridos todos os anos por meio de licitação cujo orçamento varia de R$ 40 a 45 mil. A escolha leva em conta a sugestão dos próprios leitores e a lista de livros mais vendidos, diz Teresa Gonçalves, chefe de Divisão da Biblioteca.
A biblioteca também recebe doações, com ressalvas. Por exemplo, não são aceitas enciclopédias (porquê já há muitas), livros didáticos (só se for atual) e revistas.
Para serem aceitos, os livros precisam estar em bom estado. As regras foram adotadas porque muita gente tem o hábito de fazer limpeza em casa e levar qualquer tipo de material para doação, diz Teresa.
São 2 mil usuários cadastrados, boa parte estudantes adolescentes. Porém, o espaço também é visitado por muitos adultos e idosos que têm frequência assídua. Pelo número de empréstimos, nota-se que os usuários estão interessados em ler.
Aqui, há que se questionar o horário pouco funcional para a utilização do público. A Biblioteca Pública de Foz do Iguaçu abre apenas das 8h às 14h, de segunda a sexta. Assim, uma parcela significativa da população – os estudantes que frequentam escolas matutinas e os trabalhadores de maneira generalizada – são penalizados com um equipamento cultural que se mantém fechado na parte da tarde e sem funcionamento no final de semana.
Os números da Biblioteca, ainda que encaixotados na limitação arbitrária do horário que impede acesso, mostram que há crescimento na procura pelo espaço e seus livros.
Em julho de 2022 foram feitos 400 empréstimos ao mês. Em julho deste ano, o número chegou a 900. Os livros mais procurados são de literatura estrangeira e brasileiras. Dois deles são Diário de um Banana, de Jeff Kinney e Assim que Acaba, da autora Colleen Hoover.
Teresa atribui o aumento ao projeto “Hora da História”. Iniciada no final de junho deste ano, a atividade reúne, todas às sextas-feiras, crianças que ouvem histórias de um livro e depois fazem atividades. Cerca de 15 a 20 crianças costumam comparecer à biblioteca para participar.
Daiane Nagoski Eidt, 34 anos, começou a levar as filhas, Gabriela, 6 anos, e Carolina, 3 anos, toda semana. Após a atividade eles deixam a biblioteca cheias de livros para continuar lendo em casa. “Elas ficaram mais pacientes e consegui tirá-las mais do celular”, diz.
A biblioteca infanto-juvenil começou a funcionar em 2002.
As irmãs Gabriela e Carolina são frequentadoras da seção infantil da Biblioteca – Foto: Denise Paro / Guatá
Para acessar as obras, os leitores acessam um sistema online implantando em 2021 que atualmente está em processo de migração para outra plataforma. Porém, para quem quer conhecer a história, as antigas fichas usadas para localização dos livros nas prateleiras ainda estão na biblioteca.
O sistema online pode ser acessado no instagram bibliotecapublicafoz.
Humberto de Farias Nobre, 64 anos, divide o tempo entre trabalho e leitura. Pelas manhãs, quando pode ir à biblioteca, o vendedor escolhe uma mesa e uma cadeira e viaja pelo mundo das letras.
Frequentador assíduo da biblioteca há mais de 5 anos, ele tem gosto eclético. Já leu biografias e muitos livros de história, incluindo a Guerra do Paraguai, a 2ª. Guerra Mundial, Guerra das Malvinas. “A gente vê que cada livro tem uma versão”, conta.
Quando a reportagem da Guatá esteve na biblioteca, ele lia um livro de Recordes, que ainda não conhecia. Na publicação apreciava outra área que tem bastante interesse que é a astronomia. “Me chama atenção astronomia, astrofísica, astronaves, foguetes. Chama atenção a evolução”.
Vendedor, Humberto faz vários empréstimos para levar os livros para casa e valoriza a importância da leitura. Ele reserva pelo menos 1h30 ao dia para ler, quando pode. “Quem não gosta de ler tem dificuldade de ficar em uma universidade”.
Ele diz não ser contra a tecnologia e quando quer saber algo consulta o google. Mas lembra que para usar o aparelho precisa ter acesso à internet e isso também é um custo. Também diz que apesar da disseminação da tecnologia, nada vai substituir o professor na sala de aula, a exemplo do livro. “Eu recomendo a qualquer experimentar a biblioteca e ver a paz que temos aqui”.
Coleções de periódicos que guardam parte da história iguaçuense pedem programa especial de conservação e manuseio – Foto: Denise Paro / Guatá
Um olhar pelo acervo já é suficiente para navegar pela história, seja em livros ou jornais. Uma das edições antigas é de Os Miseráveis, de Victor Hugo, de 1959.
Há também periódicos impressos em Foz do Iguaçu que hoje servem de fonte para recuperar a história e memória da cidade. Entre os jornais, estão o saudoso Nosso Tempo, o jornal A Notícia e a Revista Painel. Registre-se que as condições de preservação e manuseio destes documentos não são as ideais.
Além de livros periódicos antigos, a Biblioteca tem outras relíquias. Dois móveis que pertenceram a pioneira que empresta o nome ao espaço, Elfrida Engel.
Ao longo do tempo, a biblioteca foi mudando de local. Começou a funcionar em 1963 a partir da Lei 385 na gestão do prefeito Emílio H. Gomes em uma sala na sede da prefeitura. Em seguida, foi transferida para um prédio na Rua Quintino Bocaiúva, onde hoje funciona o Foz Habita.
Na década de 1970, o acervo foi transferido para a Avenida Brasil, na Câmara Júnior. Em 1985, na administração municipal de Perci Lima, a Biblioteca Pública, ainda subordinada à Secretaria de Educação, ganhou como braço auxiliar, um serviço de biblioteca ambulante. A experiência, ainda que inovadora, durou pouco tempo.
Biblioteca Pública instalada em espaço da Câmara Júnior, onde funcionou em anos das décadas de 70 e 80 do século XX – Foto: H2Foz
Em 1986, na gestão do ex-prefeito Dobrandino Gustavo da Silva, foi criada a Fundação Cultural de Foz do Iguaçu. A Biblioteca Pública passou a ser parte da estrutura da autarquia que nascia. Seu acervo, que estava na sede da Câmara Júnior, passou para um espaço no Colégio Parigot de Souza, também no centro da cidade.
Finalmente, em 4 de setembro de 1997, a biblioteca começou a funcionar na Rua Benjamin Constant, ocupando o andar térreo do antigo prédio do Fórum de Foz, quando este foi transferido para outro endereço.
No atual espaço, que divide com a estrutura administrativa da Fundação Cultural, a Biblioteca Pública de Foz do Iguaçu ganhou o nome que homenageia a pioneira Elfrida Engel Nunes Rios.
Atividades com o público infantil projetam a formação de novos leitores – Foto: Denise Paro / Guatá
Elfrida Engel Nunes Rios, filha de Frederico Engel Rios e de Carolina Engel Becker. A família que veio de Porto Alegre foi pioneira da hotelaria em Foz do Iguaçu e era proprietária do Hotel Brasil, onde Santos Dumont hospedou-se em 1916 quando passou pela cidade.
A pioneira foi casada com Antonio Nunes Rios com quem teve 3 filhos, 8 netos e 17 bisnetos. Elfrida é reconhecida pela contribuição com a comunidade. Fundou a Associação de Proteção à Maternidade e Infância – APMI, apoiou a Fundação da Santa Casa Monsenhor Guilherme e foi a responsável pela instalação da estátua de bronze de Santos Dumont existente hoje no Parque Nacional do Iguaçu.
Assine as notícias da Guatá e receba atualizações diárias.