. Um interessante fato aconteceu no quintal de nossa casa. A parreira do vizinho ganhou o muro alto e começou a ocupar os varais de roupa. Maria, minha esposa, relutou em aceitar tal invasão, pois perdia parte valiosa do sol da manhã, primordial para adiantar seus trabalhos domésticos. Por várias vezes ela reclamou e quebrou os galhos que roubavam seu espaço.
A planta, por sua vez, aproveitava a poda inesperada e presenteava a Dona da casa com belos frutos. A cada cacho que surgia, vinha também mais um galho novo que, quebrado, dava outros cachos e outros galhos ainda e, assim, com o tempo, a parreira veio a se tornar o xodó de minha mulher. Os ramos já ocupam a metade dos varais e ela censura a impaciência das crianças: – Ara! Por que apanhar a frutinha ainda verde? É só esperar um pouco!
No fim do verão e início do outono, porém, por vários dias, a parreira pareceu estar morta, toda seca e retorcida. Ela perdeu todas as folhas que sujaram o pátio, mas que foram recolhidas, pacientemente, pela antiga inimiga. Estaria a planta finalmente ressentida, amargurada, por tanto tempo de luta, ou, já envelhecida, viu-se, de repente incapaz talvez de recomeçar?
Bastou esperar o suceder das estações, e ela buscou forças na sua grandiosa capacidade de ressurgir e, como por milagre, da noite para o dia, enverdejou-se e, junto com as folhas saudáveis, vieram também os frutos e novos ramos. Ah, se fôssemos como essa videira e, mesmo quando ofendidos e até sem forças, nem razões, para reagir, nas adversidades da vida, déssemos frutos pra conquistar o nosso espaço e… Amigos!
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