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O ato no Paraná contou com a construção coletiva de um programa relatando os problemas e as exigências nos territórios – Fernanda Maria Caldeira
. No dia 7 de março, cerca de 1,5 mil mulheres paranaenses das ocupações urbanas, de ocupações do movimento indígena e do MST realizaram a marcha por Terra, Teto e Trabalho, levando a bandeira contra despejos forçados.
. Ao lado das bandeiras gerais e nacionais do Dia Internacional da Mulher, e da luta contra os despejos nas comunidades, o ato no Paraná contou com a construção coletiva de um programa relatando os principais problemas e as exigências nos territórios. O programa popular foi levantado pelas mulheres de cada área de ocupação. O documento registra as denúncias e lista as ações das trabalhadoras que já lutam para a melhoria de suas comunidades.
. Após a marcha e ato de ontem (7), movimentos populares e comunidades negociaram essa pauta com órgãos públicos, caso do Tribunal de Justiça, Superintendência Geral de Diálogo e Interação Social do governo do estado (Sudis); Incra/PR; Ministério Público Estadual (MP/PR), além parlamentares e prefeitos.
. A mesma lista de exigências é parte da sequência da jornada de lutas do Dia Internacional das Mulheres, e está presente nas reivindicações do ato do 8 de Março, durante a Marcha Mulheres em Resistência.
. Como contexto, a pauta construída pelas mulheres, todas elas organizadas na campanha Despejo Zero, aponta a relação direta entre a ausência de políticas de moradia no Brasil e o impacto sobre mulheres, trabalhadoras e mães de famílias.
. “A Fundação João Pinheiro reconhece que o déficit habitacional brasileiro é uma questão de gênero, que acomete principalmente as mulheres. Dados de 2021 mostram que 15 milhões de moradias informais são ocupadas por mulheres, número que representa 60% do total desses lares no Brasil”, informa o documento.
. Essa situação tem consequências na capital paranaense, onde ficam ao menos 12 ocupações recentes do período da pandemia, que integram a articulação Despejo Zero. A falta de investimentos no setor é gritante. A Cohab e outras ferramentas estão inativas: “Não chega nem a 1% (do orçamento municipal), deixando evidente a falta de comprometimento em enfrentar a crise habitacional na capital, marcada por mais de 350 espaços e ocupações de moradia irregular ou inadequada”, afirma o texto.
Entre os inúmeros problemas que a população vive nas ocupações urbanas – e as mulheres, em particular, na condição de lideranças comunitárias e familiares -, a lista é extensa de questões.
Uma das pautas coloca a exigência do “Acesso à energia elétrica equivalente à demanda das comunidades e ocupações tendo como referência a recomendação da nota técnica do MP 01/2019 para as comunidades rurais. Levando em conta a perda material das famílias com a instabilidade da rede e a segurança das mulheres”.
Os outros eixos do documento passam por moradia, educação, enfrentamento à violência contra as mulheres, trabalho e renda. No tópico moradia, fica nítida a necessidade de retomada de programas para a área, caso do Minha Casa, Minha Vida. À diferença de períodos anteriores e dos dois primeiros governos de Lula, os movimentos populares pedem agora mais participação na construção dos empreendimentos:
“Participação popular na elaboração de plantas de unidades e conjuntos habitacionais, para que atendam às demandas práticas e culturais (quantidade de quartos, espaço adequado para realização das atividades domésticas, espaço de lazer seguro para as crianças, etc.) ao invés de serem um tipo único voltado apenas à economia e lucro das construtoras”.
Entre as questões que podem ser chamadas de cotidianas em relação aos serviços públicos, estão: “Permanência do sistema escolar, acesso à material, acesso ao atendimento do SUS de qualidade, com direito ao cadastro na Unidade Básica de Saúde mais próxima à comunidade; acompanhamento por Agentes Comunitárias de Saúde dentro da comunidade”.
O elemento educativo e de condições para planejamento familiar também é elencado, por meio de “campanha educativa sobre prevenção de gravidez, planejamento familiar; incentivo à vacinação são outras questões que, quem viva e acompanha as áreas de ocupação sabe que são lutas cotidianas do povo”.
As mulheres do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) do Paraná também apresentam, no mesmo documento, uma lista de demandas que envolve, em especial, a exigência a regularização e assentamento das áreas que ainda, após anos ocupadas, vivem dias de insegurança e risco de despejos.
O movimento incluiu na pauta a demanda por 80 imóveis, todos eles com comunidades já enraizadas. “Todos já com comunidades consolidadas e estruturadas. As ocupações têm em média de 10 a 15 anos, sendo algumas com mais de 20 e até 30 anos. São cerca de 7 mil famílias, mais de 20 mil pessoas, entre mulheres, homens, idosos, crianças, adolescentes e pessoas com deficiência”.
Para romper o preconceito ainda existente com a agricultura familiar, o programa popular ainda segure: “Que sejam pensadas campanhas de combate à violência no campo e a estigmatização dos integrantes de movimentos populares que fazem a luta pela terra e por moradia, inclusive no âmbito do sistema de justiça e dos poderes executivo e legislativo”.
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