Corro com os lobos. Trocamos olhares de fogo enquanto avançamos, numa luta quase igual. Corremos pela madrugada irônica e paciente, que nos sorve com calor, pois nos sabe incendiados.
Corro com os lobos: amantes que seguem viagem numa dança alucinada. Eus incendiários que rolam lixo e colhem restos pelo caminho. Que se alimentam com voracidade dos medos insólitos das crianças deixadas na rua à noite, dos sonhos perdidos dos velhos, e do choro de recém-nascidos.
Corro com os lobos, trocando olhares de morte. Os olhos ardem contra o vento. A saliva escorre da boca com volúpia e desejo, quente, vaporosa. O suor embriaga os sentidos, criando um espetáculo de loucura e de medo.
Corro com os lobos. Os negros pássaros sem nome são os únicos a entender aonde vamos. Sobrevoam nossos corpos como se já fossemos carcaça ainda quente, nos perseguindo com tristes lamentos pela noite.
Corro com os lobos, com pressa, com raiva, com um fim de achar meu começo, sob todo este céu que nos chama perdidos.
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