O Google aproveitou a data para resgatar essa incrível história de Wu Lien-teh e como usar máscaras salvam vidas. Em época de pandemia por covid-19 ainda observamos um baixo índice de adoção de uso de máscaras de proteção facial no Brasil, desde as máscaras de tecido e até mesmo o uso das mais eficazes contra o coronavírus SARS-CoV-2, e suas variantes, como as máscaras N95 / pff2.
Wu Lien-teh ou Wu Liande (伍連德), que nasceu em 10 de março de 1879 e faleceu aos 80 anos em 21 de janeiro de 1960, era um médico malaio conhecido por seu trabalho em saúde pública e particularmente sua contribuição no combate da praga da Manchúria de 1910-1911. Wu foi o primeiro estudante de medicina de ascendência chinesa a estudar na Universidade de Cambridge, na Inglaterra.
No inverno de 1910, Wu recebeu instruções do Ministério das Relações Exteriores para viajar a Harbin e investigar uma doença desconhecida que matou 99,9% de suas vítimas. Este foi o início do surto da peste pneumônica da Manchúria e da Mongólia, que causou a morte de 63 mil vítimas.
A partir de autópsias e observação do ambiente, Wu concluiu que a peste estava se espalhando pelo ar e passou a desenvolver uma máscara, adaptando as de uso cirúrgico da época. Com mais camadas, incluiu gaze e algodão para filtrar o ar e impedir a transmissão da peste. O médico supervisionou diretamente a produção e distribuição de mais de 60 mil máscaras que teve grande repercussão na imprensa. Acredita-se que a sua invenção foi a percussora da máscara N95.
Enfrentou resistência, com sua pequena invenção sendo tratada com descrédito por parte da comunidade local e até por médicos. Um episódio relacionado com tal negacionismo, pelo menos, foi determinante para provar sua descoberta. Foi confrontado por Gérald Mesny, médico francês, que ao chegar na zona de quarentena se recusou a usar a máscara produzida por Wu. O negacionista acabou contraindo a peste e morreu dois dias depois.
Como epidemiologista Wu Lien-teh estabeleceu medidas de restrição, orientou a cremação dos mortos ao invés de enterrar, aconselhou as pessoas a usarem sua máscara recém-inventada, criou postos de quarentena e hospitais, restringiu viagens e adotou uma série de medidas para mitigar o contágio da doença. Suas ações foram essenciais para que em quatro meses depois de receber a tarefa de controlar a propagação da peste, ela fosse erradicada em abril de 1911.
Peste pneumônica é uma infeção pulmonar grave causada pela bactéria Yersinia pestis. Os sintomas mais comuns são febre, dor de cabeça, falta de ar, dor no peito e tosse com sangue. Os sintomas começam-se a manifestar geralmente de três a sete dias após exposição à bactéria.
No episódio da Manchúria, os epidemiologistas Danylo Zabolotny e Anna Tchourilina rastrearam a causa inicial do surto e chegaram até os caçadores de marmotas de Tarbagan que contraíram a doença dos animais que caçavam para o comércio de peles.
No entanto, Wu Lien-teh levantou a questão de por que os caçadores de marmotas tradicionais não haviam contraído epidemias mortais antes. Posteriormente, ele publicou um trabalho argumentando que os caçadores tradicionais Mongóis e Buryat estabeleceram práticas que mantinham suas comunidades seguras e ele culpou os caçadores que foram para a área e usaram métodos de caça que capturavam mais animais doentes e aumentavam o risco de exposição.
Wu Lien-teh também liderou os esforços para combater o surto de cólera de 1920-21 no nordeste da China. Na década de 1930, ele se tornou o primeiro diretor do Serviço Nacional de Quarentena.
Em 1935 ele foi o primeiro malaio nomeado para o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina por seu relevante trabalho no controle da peste pneumônica.
Em 1937, durante a ocupação japonesa da China ele foi forçado a fugir. Sua casa e coleção de livros médicos foram queimados. Em 1943, Wu foi capturado por combatentes da resistência de esquerda malaia e mantido sob custódia. Em seguida, ele quase foi processado pelos japoneses por apoiar o movimento de resistência pagando o resgate, mas foi protegido por ter tratado um oficial japonês.
Por volta de 1939, Wu voltou para a Malásia e continuou a trabalhar como clínico geral em Ipoh. Ele recebeu prêmios do Czar da Rússia e do Presidente da França, e recebeu diplomas honorários da Universidade Johns Hopkins , da Universidade de Pequim , da Universidade de Hong Kong e da Universidade de Tóquio .
Wu foi um verdadeiro sanitarista, percursor de diversas práticas que foram aplicadas no combate a outros surtos e pandemias. Ele praticou a medicina até a morte, aos 80 anos.
Em sua página do Doogle o Google destacou “Defensor e praticante dedicado dos avanços médicos, os esforços de Wu mudaram não apenas a saúde pública na China, mas em todo o mundo. Feliz aniversário para o homem por trás da máscara, Dr. Wu Lien-teh!”
A empresa também aproveitou a história para conscientizar sobre a importância do uso de máscaras de proteção facial, em seu blog escreveram: “Use uma máscara. Salve vidas. Como o COVID-19 continua a impactar as comunidades em todo o mundo, ajude a interromper a propagação seguindo estas etapas”
O Google agradeceu a família “Agradecimentos especiais à família do Dr. Wu Lien-teh, incluindo seus bisnetos, Dr. Shan Woo Liu e Ling Woo Liu, por sua parceria neste projeto. O Dr. Shan Woo Liu, MD, SD, médico assistente no Massachusetts General Hospital e Professor Associado de Medicina de Emergência na Harvard Medical School, disse o quanto estavam honrados por poder conta a história do antepassado.
“Estamos honrados por o Google estar comemorando o aniversário de nosso bisavô. Há pouco mais de um século, ele ajudou a combater uma praga na China e desenvolveu técnicas como o uso de máscaras, que ainda usamos hoje em nossa batalha contra o COVID-19. Quando crescemos, ouvimos as histórias de nosso pai sobre nosso bisavô – que ele era famoso por controlar a peste pneumônica da Manchúria, uma doença mortal para quase todos que a contraíam, e que ele ocupava um cargo na China equivalente ao de Cirurgião Geral em the US Um livro em nossa mesa de centro com uma capa esfarrapada, Plague Fighter, nos lembrava diariamente de suas realizações.
Sua história mexeu com algo em mim e, desde muito jovem, sonhei em me tornar um médico. No entanto, foi somente em 1995, quando participei da celebração do 80º aniversário de sua fundação da Associação Médica Chinesa, que realmente apreciei seu legado. Centenas de médicos e cientistas lotaram uma sala de conferências em Xangai para ouvir palestras sobre sua vida e carreira. Fiquei sabendo que ele era considerado por muitos o pai da medicina moderna na China. Em 2018, viajei com minha família para Harbin, no nordeste da China, para visitar um museu e instituto de pesquisa construído em homenagem ao meu bisavô. Foi emocionante seguir seus passos na mesma cidade onde reprimiu o surto de peste um século antes. Hoje, como médico de emergência tratando de pacientes com COVID-19, agradeço ainda mais sua bravura.
Um ano atrás, fiquei apavorado com o quão pouco sabíamos sobre o coronavírus. Mesmo agora, tenho dificuldade em imaginar como meu bisavô deve ter se sentido ao cuidar de pacientes que contraíram a peste. Mas também me sinto mais próxima dele do que nunca ao exortar meus pacientes a praticar o distanciamento social e a usar uma máscara – as mesmas técnicas em que ele foi pioneiro ao resgatar a China, e possivelmente o mundo, de um flagelo. Wu Lien-teh continua sendo um herói tanto agora quanto era antes.”
Fonte: https://pfarma.com.br - Texto Fábio Reis
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