Dona Miraci, demonstrando seus afazeres cotidianos, de cuidar da terra e das sementes, durante a gravação do filme / Divulgação
No dia 22 de outubro, via canal do MST no Youtube, o curta-metragem “Grão”, foi apresentado online com direito a bate-papo com os produtores e convidados como João Pedro Stédile e Leonardo Boff. Escrito e dirigido por Adriana Miranda, produzido pela Mayu Filmes, “Grão” apresenta “um olhar poético sobre a luta de famílias no estado do Mato Grosso, que resistem aos venenos, à truculência e ao poder do agronegócio com trabalho, força e fé”.
Como se trata de um filme documental, as personagens são reais. Conforme explica Miranda, são “homens e mulheres que, por meio da agroecologia, encontram o caminho da comida saudável, do trabalho coletivo e da vida em comunhão”.
A diretora manteve o primeiro contato com o território do assentamento Roseli Nunes, em Mirassol D’Oeste, no Mato Grosso, quando gravou na localidade um dos episódios da série “Tempo da Terra”, exibida pelo Canal Futura. De volta ao território, a reconexão: “Queríamos mostrar mais do que foi possível mostrar na série, era preciso voltar e falar com liberdade do tema, sem as amarras do formato televisivo, sem censura, sem limitação alguma, falar da terra, das pessoas e até mesmo do MST, de uma forma que antes não pudemos falar”.
A ideia estava proposta e era boa. Os recursos teriam de ser buscados e, através de apoiadores – Misereor, DKA Austria, Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Petrópolis e Welthaus – isso foi viabilizado. Mesclando as palavras da própria narradora, a assentada Miraci Pereira da Silva, trechos dos livros “Poemas Sem Terra” (Carlos Pronzato) e “A Águia e a Galinha” (Leonardo Boff), com depoimentos de outros moradores do território, o filme foi composto dividindo seus quase 15 minutos de duração em três atos: semente, interconectividade e luta.
“Eu sempre tive muita ligação com a terra, cresci tendo contato com a as coisas da terra”, relembra Adriana, situando a recente experiência na série “O Tempo da Terra” como uma reimersão no tema. Ainda relembrando a experiência vivida nos assentamentos, fica premente a vocação da contadora de histórias em querer dividir o que conhecera: “Fui pela primeira vez em assentamentos e fiquei impressionada em como as coisas funcionam, em como ali não tem fome, em como tudo é coletivo, isso me reconectou com a questão da terra”, conta.
Exibido, aplaudido e premiado em festivais internacionais – como Cine del Cono Sur (Chile), Festival International du Film de Nancy (França), Social Justice Film Festival (Estados Unidos), Award Best Short Film e Buenos Aires International Film Festival (Argentina) -, “Grão” já dá provas que foi semeado em terra boa, cultivado por mãos hábeis. Oferece a quem se dispõe a assisti-lo os frutos simbólicos e agroecológicos deste lavouro.
“Isso traz a ideia de que a gente está conectado, é um pensamento que vai além das fronteiras, esse pensamento de voltar à agroecologia, à Mãe-Terra, apostar no caminho de reconexão, para que as pessoas acordem e para que a gente tenha um planeta habitável no futuro para os nossos filhos e para os nossos netos”, finaliza.
Saiba mais da http://www.mayu.art.br/
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