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Indígenas ao redor do dicionário, durante o lançamento do livro. (Foto: Divulgação)
Do site Primeira Página / Adriano Fernandes
Toda a riqueza da língua indígena e os seus significados, agora, estão ao alcance de pesquisadores, alunos e os entusiastas dos estudos de linguagem. Lançado no mês de novembro, em Dourados, MS, o “Dicionário Kaiowá-Português”, reúne mais de 582 páginas e 6 mil verbetes, com a pronúncia e escrita corretas do idioma de um dos povos mais tradicionais de Mato Grosso do Sul e do Brasil.
Idealizado pela professora de História, Graciele Chamorro, o trabalho foi desenvolvido ao longo de 30 anos de pesquisa entre os povos indígenas guarani-kaiowá da região de Dourados e Ponta Porã.
“Eu me sinto muito honrada por poder trabalhar com essas pessoas, em poder registrar essas falas, esses pensamentos, essas ligações”, comenta a professora.
Graciela é paraguaia e mora em Dourados há 40 anos e foi a campo, junto com alunos da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados) desenvolver as pesquisas. De importância acadêmica e cultural ímpar, o dicionário também nasce como um aliado no combate ao preconceito contra os povos originários.
“Hoje ainda me perguntaram se o guarani-kaiowá é um dialeto. Deixa o dialeto para lá, é uma língua. Existe um racismo linguístico, a gente quer achar que é língua, só aquelas associadas com o poder”, completa a pesquisadora.
Professora idealizadora do dicionário, Graciele Chamorro. (Foto: Divulgação)
…O Ka’agwyrusu, cruzado por caminhos estreitos que interligam casas de sapé, sem ônibus, caminhões ou motos, sem clareiras, pura mata, em cujo interior vagueiam cotias, tatus, gambás, onças e muitos outros animais que têm alma. O barulho das correntes de água, o canto dos pássaros, as cores do céu e da mata, o gosto das nossas comidas quando ainda não havia nem açúcar nem sal, os gritos de alegria das nossas festas, dos nossos cantos, tudo isso está no dicionário.” (Anamélia Concianza, Kaiowá de Panambizinho)
O dicionário ainda não foi impresso, mas está disponível para ser acessado gratuitamente através deste link no site da Editora Javali. A versão impressa está prevista para 2023.
Página com alguns dos verbetes do dicionário. (Foto: Divulgação)
A obra ainda conta com ilustrações realizadas pelo desenhista Kaiowá Misael Concianza Jorge; mini-biografias, fotos de colaboradores indígenas e textos de apresentação. Em termos geográficos, o dicionário privilegia a fala de homens e mulheres Kaiowá do antigo Ka’agwyrusu, que se refere à área compreendida entre o Rio Brilhante e os córregos Panambi, Hũ e Laranja Doce.
Ela abriga, atualmente duas terras indígenas regularizadas, Panambi, ou Lagoa Rica e Panambizinho, e quatro acampamentos de retomada: Laranjeira Nhanderu, Itay Ka’agwyrusu, Gwyra Kambiy e Tajassu Ygwa.
“Trabalhamos de modo sistemático e duradouro com indígenas Kaiowá de Panambi, Panambizinho, Itay Ka’agwyrusu e Gwyra Kambiy”, descreve a autora na publicação.
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