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Moro no Campos do Iguaçu, bairro de Foz que fica na encruzilhada do centro com a periferia grande da cidade. A particularidade daqui é que os conceitos de subúrbio e periferia se confundem e se misturam. Moro a uma quadra do centro e a uma quadra do subúrbio intenso. Se vou ao leste encontro banco, shopping, prefeitura e todos os equipamentos de uma cidade de porte médio com aspiração de ser grande. Ao oeste encontro uma mercearia-mercado-bar-padaria e centro de debates políticos e futebolísticos e quiçá religiosos.
Neste Primeiro de Maio vou comprar cebolas para o almoço (duas se forem grandes e três se forem médias) sabendo que um comércio administrado por uma família estará aberto mesmo no prenúncio do apocalipse. Pego minhas cebolas, três médias, aguardo na fila – movimento intenso do feriado; e no outro lado do balcão um senhor trabalhador bem vestido para ficar em casa, pede uma cachaça:
— Não tem vergonha, irmão? — pergunta o senhor atendente do outro lado do balcão. — Não.
O atendente vai até um canto, pega um copo americano, desses de café e cerveja, e num pequeno barril finamente trabalhado abre a torneirinha de uma pinga de alambique dourada. Pago minhas três cebolas médias e volto para casa.
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