O livro narra a história de Bel, uma criança negra que descobre o mundo por meio da experimentação – Fotomontagem: Jornal USP – Imagens: starline/Freepik, Reprodução/Icon Icons e Divulgação/Moah! Editora
A ciência é feita para todos e todas, mas precisa ser difundida de maneira mais clara para seu melhor entendimento. O livro Bel, a Experimentadora é uma obra infantil que destaca o valor do pensamento científico e busca comunicar a ciência de forma lúdica para crianças. Bruno Gualano, professor do Departamento de Clínica Médica e pesquisador do Centro de Medicina do Estilo de Vida da Faculdade de Medicina da USP, é autor do livro e explicou a importância de tratar desse assunto para o público geral.
“Estamos acostumados a comunicar as nossas descobertas e os nossos estudos em eventos muito tradicionais, através de congressos científicos e revistas especializadas. Como eu costumo brincar, estamos acostumados, portanto, a comunicar a ciência para sete pessoas que pesquisam o que nós pesquisamos. E a gente precisa sair um pouquinho dessa caixinha e começar a falar para a população” discorre o professor .
Gualano explica que esse processo de ajudar as pessoas a compreender o mundo pelos olhos da ciência é chamado de letramento científico, e o livro nasce com esse objetivo.
O livro narra a história de Bel, uma criança negra que descobre o mundo por meio da experimentação. Esse processo era feito exclusivamente por ela, o que deixava sua vida monótona. Então, a protagonista tenta convencer os amigos da Rua Marie Curie que a experimentação é para todos e todas. Com o passar do tempo, as crianças descobrem que existe uma explicação científica para tudo o que está ao redor. “O livro realmente mostra como a ciência pode ser divertida e como ela está em tudo”, acrescenta Gualano.
Bruno Gualano – Foto: Leonor de Calasans/IEA
O processo de letramento científico, de acordo com o autor do livro, abarca um grande espectro. Ninguém é totalmente iletrado cientificamente, mas também ninguém entende e sabe tudo sobre ciências. Dessa forma, não é possível tratar das pessoas como se fossem tábulas rasas, desprovidas de conhecimento. Existem os saberes populares e a religião, por exemplo, que são formas de enxergar o mundo e adquirir conhecimento. A ciência é mais uma forma de enxergar o mundo e contribui com a formação de um pensamento crítico.
A história de Bel, que está inserida em uma coletânea de livros, tem como objetivo apresentar a ciência como uma forma interessante de enxergar o mundo. “As crianças têm curtido a obra porque apresenta a temática de uma forma lúdica. Podemos apresentar a ciência falando da sua natureza, dos seus princípios e de seus métodos, mas também é possível apresentá-la através da sua relação com a sociedade. O livro, então, se propõe a falar sobre a ciência do segundo jeito”, exemplifica.
O prefácio da obra foi feito por Natália Pasternak, bióloga e pesquisadora da USP, e as ilustrações foram realizadas por Catarina Bessell, artista plástica formada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP.
Gualano brinca que realizou a escrita do livro, algumas anotações sobre como imaginava que seriam as ilustrações, e entregou para Catarina. Depois de ilustrar e diagramar a obra, a artista plástica devolveu para o autor, que disse que os desenhos estavam completamente diferentes do que havia sugerido, mas que estavam muito melhores que os rascunhos originais.
O autor comenta que a protagonista enfrentará inúmeros desafios nos próximos livros, como os negacionistas da vacina, do aquecimento global e a temática do bullying, por exemplo.
Páginas internas do livro “Bel, a experimentadora” – Imagens: Divulgação/Moah! Editora
Segundo o autor, a escolha de uma personagem menina e negra é justamente para fomentar um debate a respeito dessas questões. “A gente fala que a ciência é para todos e todas, mas muitas vezes ela não é. Foram 150 anos para que a principal revista científica do mundo, a Nature, tivesse sua primeira editora. Na Faculdade de Medicina, foram 120 anos para que tivéssemos nossa primeira diretora. As coisas estão mudando, mas precisamos acelerar esse processo. Precisamos de uma inclusão de gênero e também uma racial” acrescenta Gualano.
A ideia é que as crianças se identifiquem com a personagem e a história e saibam que a ciência é para elas também. O autor ainda explica que o enfoque do livro são os indivíduos mais vulneráveis. Pelo menos 80% das cotas desse projeto são destinadas a hospitais infantis e projetos sociais. “Queremos que essa mensagem ganhe força, e que os pensamentos críticos e científicos ajudem a criarmos uma sociedade mais justa e democrática.”
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