Sonho, poema de Sidney Giovenazzi

Reproduzido de rede social do autor.

A Usina dos Sonhos, tela de Fernando Naviskasquero a surpresa
a brutalidade inaudita
da cena imprevisível
formando coisas nos sentimentos
e deformando seus conformismos

antes da palavra dos objetos
do sentido empedernido dos acontecimentos
antes dos significados e suas confusões
do conflito insuperável das convicções
antes que minhas pálpebras sosseguem a imagem
e reconciliem ali
a organização desajustada e sinuosa
dos nomes a seus corpos
dos códices a vozes
antes
antes que entre cores
e limites ilídimos de formas
silhuetas se reconheçam como minhas
e se delineiem
marginalizando a arte como parte
e coibindo as suas
antes
que pronomes nos distanciem
antes
dessa contaminação civilizada
e eternamente crua
quero que elas fruam:
numa diluição permanente e bacante
um deslize que o tempo não conseguira catalogar
como coisa ou fato
mesmo durando em se movendo sem cessar
e estou apenas de olhos cerrados
desperto
aguardando estupefato
o espetáculo íngreme
o destrato
entre o certo e o incerto
dessa convulsão ininteligível
se revelar
eis o parto de uma língua viva
o cálculo de uma nova álgebra
no cenário caótico e silente
de minhas pálpebras
…um ventre
O livre imprevisível
e vívido
insinuado à minha consciência
essa perene e falante triste
filha bastarda da ciência
…um esquife
o imprevisível livre
agora pacificamente rebelde
desintencionadamente calmo
como um suspiro
uma vigília desfalecida
SONHO

Sidney Giovenazzi é poeta e músico em São Paulo, SP.